A primeira década do Século XXI representou um período de retomada do crescimento econômico para o Brasil e para a América Latina. Influenciados pelas condições internacionais favoráveis, expansão do comércio internacional e valorização das commodities em virtude do crescimento chinês, esses países voltaram a crescer após duas décadas de estagnação. Concomitantemente, a ascensão ao poder de governos progressistas ocasionou a retomada de políticas públicas, como o fomento a políticas de desenvolvimento, a criação de novas políticas de transferência de renda, e a retomada de investimentos em infraestrutura e habitação. A retomada de investimentos públicos permitiu avanços na redução da pobreza e da desigualdade em vários países da região, conforme relato das agências multilaterais, fomentando impactos com alguma relevância no desenvolvimento urbano e regional.
Contudo, a construção de um modelo de desenvolvimento mais inclusivo não prosperou. A agenda de reformas urbano-regionais, que seria parte central desse modelo, pouco avançou. Como explicar a perda de eficácia dessas políticas e o enfraquecimento dos governos que as conduziam com relativo sucesso até bem pouco tempo?
A crise econômica mundial resultante do esgotamento do ciclo de crescimento do modelo financeiro-imobiliário dos países centrais e a diminuição do ritmo de crescimento da China acabaram por contaminar esse ciclo de desenvolvimento. A volta da recessão econômica e a necessidade de adaptação a essa nova realidade têm ocasionado a revisão de políticas e programas e a diminuição dos investimentos públicos, colocando em xeque os avanços obtidos pelo Brasil e a quase totalidade dos países latino-americanos. As crises políticas passaram a ameaçar os avanços na região, fazendo regredir as políticas de inclusão social e pondo limite à continuidade de governos progressistas.
Por outro lado, a população inserida em um novo padrão de consumo, dentro de um ambiente democrático, tem tido uma postura mais ativa com relação às políticas públicas, como pôde ser visto na volta dos movimentos sociais às ruas, clamando pela sua expansão e melhoria. Movimentos como as “Jornadas de Junho de 2013” no Brasil têm demonstrado a resistência da sociedade civil à diminuição das conquistas sociais. Todavia, outros movimentos surgiram com uma feição mais conservadora, contrapondo-se aos primeiros, mostrando o caráter antagônico das forças que lutam, de um lado, pelo o direito à cidade e pela redução das desigualdades socioespaciais e, de outro, pela manutenção do status quo urbano-regional patrimonialista e rentista.
Diante de um cenário que aponta para uma tendência de forte redução nos investimentos públicos, o retorno do aumento das desigualdades socioespaciais e a retomada da concentração da renda e riqueza, cabe o questionamento do que se fazer.
Este é um importante momento para se discutir a agenda pública nacional, regional e local, para o planejamento urbano e regional, mas também para se pensar em propostas, estratégias e, sobretudo, em mecanismos de resistências que fortaleçam a defesa da agenda pública. A sociedade brasileira clama por soluções concretas dos problemas e impasses urbanos e regionais, evitando o recuo da agenda de reformas urbanas e regionais.
O XVII Encontro Nacional da ANPUR, com o tema “Desenvolvimento, Crise e Resistência: quais os caminhos do planejamento urbano e regional?”, propõe-se como importante fórum de debate científico-acadêmico na área dos estudos urbanos e regionais de forma a aprofundar a discussão acerca das questões relacionadas ao atual momento político, econômico e social do Brasil.
Publicado:
2019-05-02