SL18 Território usado/praticado como categoria central do planejamento urbano e regional

  • Manoel Leme da Silva Neto
  • Mónica Arroyo
  • Catia Antonia da Silva
  • Pedro Cláudia Cunca Bocayuva
  • Adriana M. Bernardes Silva
Palavras-chave: território, prática social, ação política, teoria crítica, planejamento, período popular, espaço banal, grande cidade

Resumo

Território usado/praticado como categoria central do planejamento urbano e regional Used/practiced territory as a central category of urban and regional planning

Coordenador: Manoel Lemes da Silva Neto, Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, docente, manoel.lemes@puccampinas.edu.br

Debatedora: Mónica Arroyo, Programa de Pós-graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo, docente, mmarroyo@usp.br

A proposta desta Sessão Livre é tornar presente interlocuções possíveis entre as obras de Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro e a temática do XVII ENANPUR – desenvolvimento, crise e resistência: quais os caminhos do planejamento urbano e regional? A proposta desta Sessão Livre é tornar presente interlocuções possíveis entre as obras de Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro e a temática do XVII ENANPUR – desenvolvimento, crise e resistência: quais os caminhos do planejamento urbano e regional? Anteriormente, em 2015, no XVI ENANPUR, esses diálogos estavam presentes na Sessão Livre “Visões de mundo a partir do olhar de Ana Clara Torres Ribeiro”. Então, à luz dos “conceitosprojeto” do trabalho de Ana Clara, explorou-se afinidades teóricas fundamentais, como a interlocução com Milton Santos a respeito de inter-relações espaço, território, prática social e política. Agora, quando se indaga sobre os caminhos do planejamento urbano e regional no Brasil e na América Latina, articulam-se ao questionamento convergências extraordinárias entre a geografia de Milton Santos e a sociologia de Ana Clara Torres Ribeiro. Neles, a perspectiva da teoria social é notavelmente desenvolvida. A partir dos anos 1990, em especial, o escancaramento da globalização os impulsiona em ideias das quais emergem importantíssimos arcabouços do pensamento crítico contemporâneo. Na “Sociologia do Presente”, de Ana Clara, Milton Santos contribui como um de seus principais “nortes reflexivos”. A expressão “humanismo concreto” está entre eles. O “homem lento” e a “psicoesfera” também remetem às conceituações elaboradas pelo geógrafo que os aproximam na produção teórica e no lastro a ela subjacente: a ação política. A densidade e pertinência da análise, a coerência interna dos argumentos resultam do franco interesse de Ana Clara no avanço do pensamento de Milton Santos, e em consonância à produção de uma sociologia compreensiva do cotidiano e da cultura popular. A conversa entre ambos se estendeu para além das atividades profissionais, que os aproximaram no final da década de 1970. Como interlocutora reconhecidamente muito ativa da obra de Milton Santos, identificar e esclarecer as intrincadas associações entre técnica, tecnologia, sociedade, cultura e território é, em princípio, a contribuição primordial da socióloga. Sob tal quadro de referências, as exposições desta Sessão Livre exploram abordagens desenvolvidas a partir da noção de “território usado” inicialmente proposta por Milton Santos ou, ainda, de “território praticado”, apropriação que se depreende do trabalho de Ana Clara a partir daquela ideia elementar. A perspectiva intermediada pelo conceito de território usado/praticado é a da análise críticopropositiva. Advém da problematização teoria-práxis, do papel do intelectual público atribuído por Ana Clara a Milton Santos. E essa espécie de explicação teleológica se faz particularmente indispensável no período histórico atual. Em Milton Santos, o “caminho que nos libere da maldição da globalização” tem a “sociedade territorial” como base. Isto é, a sociedade indissoluvelmente, territorialmente apreendida aos objetos e ações que a animam. E é o uso do território, não as formas, que o torna “objeto da análise social”. Para ele, o território não é uma categoria de análise. A categoria de análise é o “território usado”. O território-forma é impotente para explicar e transformar. Não dá conta de uma explicação satisfatória do fenômeno espacial; não consegue assegurar, nem desenvolver verdadeiras estratégias de planificação, aquelas que, à serviço dos homens, produzem transformações estruturais na sociedade, na economia e no espaço. tégias de planificação, aquelas que, à serviço dos homens, produzem transformações estruturais na sociedade, na economia e no espaço. Dentro das ciências sociais, o território, para ser alçado ao patamar de categoria analítica, deve se tornar território usado. Tão somente considerado enquanto forma, o território é desprovido de sentido social. Diferentemente, o território usado, enquanto categoria de análise, visa a política e produz projetos. Territoriais e científicos. Territoriais, na medida em que o elemento categórico tem como lançar fundamentos de outro planejamento urbano e regional, de outro urbanismo. Científicos porque, as categorias analíticas, que ampliam potências de interpretação do mundo, ensejam percepções radicalmente inovadoras. É o caso do território usado em relação às disciplinas espaciais: estendem horizontes interpretativos e de ações. Por exemplo, o “mercado socialmente necessário”. Essa noção, trazida por Ana Clara, representa um marco epistemológico para a análise da desigualdade socioespacial. E tal percepção do analista conduz estratégias que alargam o usufruto do território pelos sujeitos coletivos. Disso é que se trata. Reflexão e ação, “ideias-conceitos”, “ideias-projeto” decorrem do esforço disciplinar desses teóricos. Na trajetória de Milton Santos, o território usado associa-se à compreensão do método geográfico. À totalidade do espaço, objetos e ações configuram o espaço humano, o espaço habitado, sinônimos de território usado. Nos anos 1970, o espaço, como categoria filosófica, define, para Milton Santos, o objeto da geografia. Na década de 1990, ele apresenta o conceito de território usado como um novo elemento para se refletir o espaço a partir da associação sistema de açõessistema de objetos, constitutiva da totalidade em movimento. Entre os argumentos que sustentam o caráter categórico do território usado, o quotidiano, o saber local, a cultura territorializada e a ação social descortinam, para Ana Clara, níveis analíticos que lhe autorizam justapor o território praticado ao território usado. Do prisma de sua visão sociológica, a dinâmica das práticas sociais ocupa papel equivalente à geográfica bidimensionalidade espacial sistema de ações-sistema de objetos. Para ela, e também do ponto de vista do método, a totalidade social é muito mais importante que a totalidade espacial. Entretanto não se trata de disputa entre disciplinas sobre o que seja totalidade. O que se pretende é perseguir uma “visão articulada de processos, fenômenos e conceitos”. Além do território e de como é usado, o território praticado implica levar em conta uma significação política relevante. Há, subjacente na proposição do território praticado, certa centralidade da ação política. Nos dois sentidos, uma direção comum: a crítica do predomínio de valores, como o de eficácia e desempenho que emprestam à gestão do território ares de legitimidade que solapam a ação política. O território usado/praticado é o lugar de construção dos projetos; com a revolução teórica, tornase possível convergir numa revolução social, econômica e espacial. A teoria do espaço e a teoria da ação podem, então, prosseguir desvencilhadas do pensamento e da ação hegemoneizantes. Desse modo, os temas a serem abordados nesta Sessão Livre, sob prismas particulares, pretendem contribuir na discussão de alternativas contemporâneas para o planejamento urbano e regional: “Diálogos possíveis entre a geografia e a sociologia no tempo presente” (Catia Antonia da Silva); “Novo urbanismo crítico e a perspectiva policêntrica” (Pedro Cláudio Cunca Bocayuva); “Da análise espacial ao projeto: superar a dicotomia” (Manoel Lemes da Silva Neto); e “Período popular e espaço banal: desafios teóricos, analíticos e propositivos” (Adriana M. Bernardes Silva).

Palavras Chave: território, prática social, ação política, teoria crítica, planejamento

Diálogos possíveis entre a geografia e a sociologia no tempo presente

Catia Antonia da Silva, Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, docente, catia.antonia@gmail.com

Ana Clara Torres Ribeiro, socióloga, e Milton Santos, geógrafo, contribuíram para a renovação das ciências sociais e da Geografia em particular. Os vários anos de convívios, de debates, reflexões e escritas contribuíram para a reformulação da sociologia, geografia do presente. Aliás, o presente, na sua dimensão corpo-espaço-tempo, a presentificação é condição existencial do possível, quer seja na força do exercício da dominação, poder e consenso da ordem social, quer seja na dimensão das formas e ações de resistência e insurgências. A indissociabilidade entre o sistema de ação e sistema de objetos proposta por Milton Santos teve grande colaboração dialógica com Ana Clara Torres Ribeiro, que posiciona o debate das teorias das ações sociais, numa perspectiva de aprofundamento analítico que nos ajuda a pensar a teoria do espaço geográfico de Milton Santos. O presente trabalho tem como finalidade apresentar fios e nexos dialógicos, teóricos e metodológicos estabelecidos entre os dois autores, sobretudo com ênfase a compreensão da conjuntura politica e das questões postas no tempo presente.

Palavras Chave: análise de conjuntura, espaço banal, ação social

Novo urbanismo crítico e a perspectiva policêntrica

Pedro Cláudio Cunca Bocayuva, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, docente, cunca@uol.com.br

As transformações e desafios da questão urbana para o Brasil tornam urgente a mobilização da inteligência pública nacional, da comunidade de cientistas com os movimentos sociais para dar centralidade ao processo de produção de conhecimentos aplicados para a solução dos grandes problemas das megacidades. Nas nossas pesquisas e avaliações da conjuntura social vemos a necessidade de um avanço em direção a processos de CT&I capazes de darem conta dos grandes gargalos da urbanização das favelas e periferias. A partir das áreas de conhecimento ligadas às disciplinas espaciais, aproximando o planejamento urbano e regional, a geografia, a sociologia, a arquitetura e o urbanismo. Hoje é preciso ampliar o âmbito das soluções urbanísticas de grande escala na relação direta com demandas derivadas da centralidade do social. Tratasse de pensar o urbanismo e a orientação de políticas e projetos como resposta para a grande escala na formação articulação de um novo bloco social e técnico. O contexto exige um salto na capacidade de desenho estratégico, do trabalho sobre estrutura, agência, forma e função na relação com os sujeitos e vozes ligadas ao território usado (desde o ponto de vista dos subalternos). Destacamos a importância da reflexão tecnológica dentro do eixo do urbanismo crítico, em interação com as práticas espaciais dos sujeitos populares, na perspectiva do direito à cidade como resposta ao quadro de desigualdade e segregação. Na ligação direta com a interação entre o adensamento e as dinâmicas distributivas policêntricas a partir de demandas na direção do social, do comum e do público. articulação de um novo bloco social e técnico. O contexto exige um salto na capacidade de desenho estratégico, do trabalho sobre estrutura, agência, forma e função na relação com os sujeitos e vozes ligadas ao território usado (desde o ponto de vista dos subalternos). Destacamos a importância da reflexão tecnológica dentro do eixo do urbanismo crítico, em interação com as práticas espaciais dos sujeitos populares, na perspectiva do direito à cidade como resposta ao quadro de desigualdade e segregação. Na ligação direta com a interação entre o adensamento e as dinâmicas distributivas policêntricas a partir de demandas na direção do social, do comum e do público.

Palavras Chave: conjuntura social, urbanismo, prática social

Da análise espacial ao projeto: superar a dicotomia

Manoel Lemes da Silva Neto, Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, docente, manoel.lemes@puccampinas.edu.br

Nas disciplinas projetuais, o desnivelamento entre a análise espacial e o projeto é frequente. Não raras vezes, a leitura e a análise do espaço que subsidiam a elaboração de projetos não se repercutem em virtudes estéticas e funcionais da forma. É uma hipótese. Se há problemas a serem resolvidos no campo da estética e da metodologia do projeto, também há outras questões de método que explicam o desencontro. Neste caso, fala-se do método envolvido na análise espacial e, consequentemente, das categorias utilizadas na interpretação do fenômeno. Pressupondo que tal problematização envolve a mais ampla das dicotomias no âmbito das ciências sociais, a que se estabelece entre a teoria e a prática, a proposta da exposição é explorar articulações teóricas da sociologia, da geografia e do urbanismo e complementaridades de pensamento depreendidas das obras de Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro. Propõe-se discutir três planos analíticos. 1) O método – abordagem geográfico-sociológica da noção de totalidade e a indissociabilidade das ações com os objetos. 2) O fenômeno – o fato metropolitano no Brasil: involução metropolitana, involução intra-metropolitana; as múltiplas dimensões territoriais da crise econômica contemporânea e o projeto político, da nação ao lugar da vida cotidiana. 3) A ação política – ação, projeto da ação, conhecimento prático e território usado; da teoria à prática e do direito ao entorno, em Milton Santos; sobre o ensino do planejamento e a cartografia da ação social, em Ana Clara Torres Ribeiro.

Palavras Chave: análise espacial, projeto, políticas públicas

Período popular e espaço banal: desafios teóricos, analíticos e propositivos

Adriana M. Bernardes Silva, Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, docente, abernar@ige.unicamp.br

A constituição de um novo período histórico, o período popular, aparece como uma questão teórica e política deixada por Milton Santos (1979, 2000), nos desafiando a renovar o pensamento e a ação. Sua preocupação com o novo período repousava na vontade de valorizar a centralidadedo homem (e não a do dinheiro) para a construção de uma outra globalização e, portanto, de um outro espaço geográfico. Por isso, preocupar-se com o novo período implicará, no campo da pesquisa, em desvendar a rica e complexa densidade humana que aporta os novos conteúdos potencialmente ascendentes ao espaço banal, desencadeando efeitos sistêmicos. Conforme Ana Clara T. Ribeiro, implicará também em superar a impotência propositiva nos difíceis caminhos a ser percorridos nas lutas por justiça social. do homem (e não a do dinheiro) para a construção de uma outra globalização e, portanto, de um outro espaço geográfico. Por isso, preocupar-se com o novo período implicará, no campo da pesquisa, em desvendar a rica e complexa densidade humana que aporta os novos conteúdos potencialmente ascendentes ao espaço banal, desencadeando efeitos sistêmicos. Conforme Ana Clara T. Ribeiro, implicará também em superar a impotência propositiva nos difíceis caminhos a ser percorridos nas lutas por justiça social. Nucleados a partir das categorias território usado (Milton Santos) e território praticado (Ana Clara T. Ribeiro), os conceitos de lugar, escassez, contigüidade, rugosidades, co-presença, homem-lento, emoção, cultura popular, densidade comunicacional, mercado socialmente necessário, seriam um guia teórico para pensar-se a existência do período popular e do espaço banal (o espaço de todos). Tais categorias e conceitos podem nos ajudar a propor uma agenda analítica de situações concretas e contribuir, desse modo, para reinventar uma práxis planejadora.

Palavras Chave: período popular, espaço banal, grande cidade

Publicado
2019-05-11
Seção
Sessão Livre