SL - 46 TRANSFORMAÇÕES URBANAS E MEGA PROJETOS

  • Jorge Azevedo de Castro
  • Eva Kassens-Noor
  • Christopher T. Gaffney
  • Eduardo Alberto Cusce Nobre
  • Maurício Nunes Rodrigues
  • Marcos Bezerra do Couto Cavalcanti
  • Adam G. Williams
  • Cecília Benites
Palavras-chave: concepção, projeto, estratégia

Resumo

Desde o anúncio do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016, grandes projetos de infraestrutura de transporte tenham sido transformando a cidade. Esses projetos são considerados como parte do “planejamento do legado” dos Jogos Olímpicos e são condicionados pelos documentos de planejamento contidos no dossiê de candidatura de Rio 2016. Mesmo com um projeto de mobilidade definitivo, multíplices alterações a proposta inicial tenham surgidos. Esse trabalho argumenta que o sistema de Bus Rapid Transit foi escolhido como a dominante solução para problemas de mobilidade olímpica por méritos relativos de custo, rapidez e flexibilidade de implementação e fácil aquisição de terra urbana. Através de entrevistas com membros do Comitê Olímpico Internacional, integrantes do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, oficiais governamentais e trabalho de campo em comunidades afetadas, os autores desdenham o processo de “decision making” que resultou com a projeção e implementação dos BRTs e analisamos seus prováveis impactos ao longo das trajetórias escolhidas. Os autores concluem que os projetos de BRT associados aos Jogos Olímpicos são inadequados para o desenvolvimento sustentável de longo prazo para a cidade do Rio de Janeiro.
Baseados na flexibilização da legislação urbanística e na instituição de parcerias público-privadas, os grandes projetos urbanos contemporâneos surgem na década de 1980 como resultado das transformações no paradigma do planejamento urbano no atual estágio do Capitalismo Tardio. Dentre esses grandes projetos urbanos destacam-se aqueles desenvolvidos no bojo dos Megaeventos Internacionais. São Paulo, como uma das Cidades-sede da Copa de 2014, vem construindo a Arena de Itaquera na Zona Leste da cidade, região caracterizada como uma imensa cidade-dormitório desde a década de 1970. A construção desta arena vem de encontro aos objetivos estratégicos da municipalidade do desenvolvimento econômico da região que está inserida na Operação Urbana Consorciada Rio-Verde Jacu e na proposta do “Arco do Futuro” do prefeito recém-eleito. As obras em andamento preveem a remoção de 601 famílias das Favelas da Paz e Miguel Ignácio Cury, em função da implantação do Parque Linear Rio Verde, além de diversas melhorias viárias propostas, construção de equipamentos públicos e incentivos fiscais. O objetivo deste trabalho é avaliar os possíveis resultados da implantação da combinação desses projetos no âmbito das propostas para a Copa com a Operação Urbana e o “Arco do Futuro”, procurando compreender os impactos físico-espaciais e socioeconômicos como os seus reais legados.
Existe atualmente um crescente interesse acerca dos mega eventos em função dos potenciais benefícios relacionados ao desenvolvimento socioeconômico dos países-sedes, advindos da atração de recursos e do efeito catalisador dos investimentos em infraestrutura. Entretanto, percebe-se também a existência de potenciais riscos, tais como gastos excessivos, pobre utilização dos espaços urbanos e estruturas subutilizadas após o evento. Para avaliar a relação custo-benefício, a maioria dos estudiosos tem direcionado esforços para quantificar o “impacto econômico” teórico. Entretanto, existem poucas evidências de impactos positivos mais amplos e de longo prazo, os tão propagados legados. Estudos recentes indicam que os impactos intangíveis são, potencialmente, os principais benefícios dos mega eventos, em virtude da sua natureza, variedade e influência indireta. Levando-se em consideração que a gestão dos intangíveis é essencial na nova realidade do século XXI, emerge a questão de como poderíamos gerenciar os ativos intangíveis gerados por mega eventos globais visando à criação de valor futuro. Poucos estudos foram conduzidos com este fim em função da dificuldade no julgamento se um determinado impacto possui valor negativo ou positivo e a inexistência de modelos e indicadores fidedignos para avaliação dos impactos intangíveis neste contexto. No presente trabalho, pretende-se apresentar o processo de desenvolvimento de um modelo diagnóstico para a tomada de decisão de investimento e gestão estratégica de projetos de mega eventos com base nos ativos e recursos (tangíveis e intangíveis) gerados pelos mesmos. Este terá como foco avaliar e prover informações para o gerenciamento mais efetivo dos mega eventos, visando-os como indutor da competitividade.
A cidade do Rio de Janeiro tem experimentado nos últimos anos um período de expansão, particularmente da sua Zona Oeste, com empreendimentos privados de porte significativo. As Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro assim como a Copa de Mundo de Futebol, têm um forte impacto no planejamento urbano da cidade. Projetos que teriam uma execução de longo prazo como a revitalização da área Portuária e projetos de infraestrutura de transportes como o BRT, receberam um grande incentivo e uma aceleração dos seus cronogramas como consequência desses grandes eventos.
A adequação para uso Olímpico de complexos esportivos existentes localizados em diferentes pontos da cidade foi uma estratégia traçada por parte do Comitê Organizador conformado pelos três níveis de governo, no período da candidatura da cidade para sediar os Jogos que visou a uma distribuição da renovação urbana de uma forma mais equitativa. No contexto Olímpico, o Parque da Barra é o núcleo com a maior concentração de equipamentos esportivos onde serão realizadas a principais atividades esportivas. O Parque Olímpico abrange uma concentração de grandes áreas públicas, áreas designadas à mídia, patrocinadores, e atletas.
Prevê-se que o Legado do Parque Olímpico comportará um Centro Olímpico de Treinamento para atletas brasileiros, um novo parque urbano de grande escala e empreendimentos de uso residencial e misto somando uma área de 1.180.000m2. Estaremos apresentando a concepção do projeto do Parque da Barra no contexto desta estratégia traçada na Candidatura, dando ênfase nas lições aprendidas na elaboração e execução do Parque Olímpico de Londres 2012. Nos próximos quatro anos o Rio de Janeiro será sede de grandes eventos esportivos a nível mundial, o que impõe à cidade uma agenda de obras e organização de serviços complexa e acelerada, dentro de um horizonte fixado pelo ciclo olímpico quadrienal, o maior desses eventos. Destacamos nesse texto a transferência sistematizada de experiências anteriores no planejamento e execução dos Jogos, e o que há dentro desse programa como uma visão de organização da cidade e de seus sistemas, antes e após receber a multidão de profissionais e visitantes envolvidos com a programação, tendo como referência a documentação dos eventos anteriores e da bibliografia consultada, para levantar indicativos de uma visão do movimento olímpico contemporâneo sobre a cidade.

Publicado
2018-10-19
Seção
Sessão Livre