SL - 08 EXPERIÊNCIAS METODOLÓGICAS PARA APREENSÃO DA CIDADE CONTEMPORÂNEA

  • Paola Berenstein Jacques
  • Margareth da Silva Pereira
  • Cibele Saliba Rizek
  • Thais de Bhanthumchinda Portela
  • Fabiana Dultra Britto
Palavras-chave: metodologia, apreensão, narrativas

Resumo

Esta proposta de sessão livre pretende, ao colocar em debate diferentes experiências metodológicas de apreensão da cidade, contribuir com o esforço em comum deste XV Encontro da ANPUR no sentido de reformular teorias, abordagens e práticas do planejamento urbano e do urbanismo, sobretudo ao propor a discussão sobre os limites de suas ferramentas mais tradicionais de apreensão e compreensão da cidade, particularmente no contexto da complexidade de cidade contemporânea. A sessão livre se inscreve no debate em andamento no âmbito da pesquisa : « Experiências metodológicas para a compreensão da complexidade da cidade contemporânea » (FAPESB/CNPq – PRONEM - Programa de Apoio a Núcleos Emergentes) cuja proposta é a de investigar metodologias de apreensão da complexidade das cidades no atual contexto de espetacularização urbana, buscando articular três linhas de abordagem que costumam ser tratadas separadamente: historiografia, apreensão crítica e experiência estética-corporal. A pesquisa toma a noção de experiência e de sua transmissão em forma narrativa, como princípio norteador de nossa investigação metodológica.
A pesquisa baseia-se em nossos estudos já empreendidos e em andamento, acerca das implicações e conseqüências do chamado processo de espetacularização das cidades contemporâneas que, resultante da lógica pacificadora e segregatória subjacente à crescente privatização e pacificação secutirária dos espaços públicos, afeta de modo estrutural as dinâmicas sociais cotidianas, o processo de produção de subjetividades e a própria corporalidade de seus habitantes, comprometendo, por fim, as possibilidades de constituição da própria esfera pública da vida urbana. Esta pesquisa busca também um aprofundamento na discussão e realização das práticas de apreensão urbana no campo do urbanismo e do planejamento urbano, partindo de suas recentes reconfigurações formuladas em diferentes campos de conhecimento como a Sociologia, a Antropologia, a História, as Artes e o próprio Urbanismo. Assim, esta sessão livre contará com a participação de pesquisadores com os quais a pesquisa mantém parceria colaborativa em torno de questões correlatas e complementares, na mesma busca por metodologias mais apropriadas à uma compreensão da complexidade de configuração da vida urbana contemporânea.
A sessão livre será a ocasião de levar a público a discussão sobre ferramentas conceituais e metodológicas para a apreensão da cidade contemporânea. Buscaremos enfocar, como tema central, as possibilidades de experiência da cidade e seus modos de compartilhamento e transmissão, em particular a partir da ideia de narrativas urbanas. A questão das narrativas é central no debate aqui proposto, especialmente quanto à diferenciação feita por Walter Benjamin entre dois tipos de experiência associados a dois termos diferentes em alemão: Erlebnis, a vivência, o acontecimento, uma experiência sensível, momentânea, efêmera, um tipo de experiência vivida, isolada, individual; e Erfahrung, a experiência maturada, sedimentada, assimilada, que seria um tipo de experiência transmitida, partilhada, coletiva. A grande questão para Walter Benjamin não estaria tanto no depauperamento da experiência vivida, da vivência, menos ainda na sua destruição, como em vários autores contemporâneos como Giorgio Agamben, por exemplo, mas na dificuldade de transfomá-la em experiência acumulada, coletiva (Erfahrung), ou seja, de transmiti-la. Para Walter Benjamin, mais do que a experiência propriamente dita (em termos de vivência), era a arte de narrar que estaria em vias de extinção na modernidade. A partir daí surge uma questão fundamental que para nós está diretamente relacionada com a apreensão da cidade: como narrar a nossa experiência urbana hoje ?
Com sabemos, a questão das narrativas e da narração está diretamente relacionada a questão da memória e, assim, da história, em particular, da historiografia, da forma de se contar ou de se narrar a história, de transmiti-la. Também está diretamente relacionada com as experiências de trabalho de campo, etnográfico, de escuta do outro, da escolha de interlocutores, das diferentes formas de relatos de encontros. Sabemos também como o próprio exercício de narração está associado a uma prática espacial, ao movimento, à viagem ou, ainda, ao simples andar pela cidade. A narração, em qualquer forma de narrativa (textual, fotográfica, audiovisual, etc), não somente exprime uma prática, uma ação, nem se contenta em dizer o movimento, ela já o faz ao narrar. Uma narrativa seria uma prática do espaço, um tipo de ação, que pode ser cartografada, mapeada. Essas cartografias partem de experiências físicas, corporais. O próprio corpo pode ser compreendido como um tipo de cartografia da experiência urbana. Como relacionar essas narrativas tão díspares? Como articulá-las, montá-las, para melhor apreender a cidade?
Buscaremos articular diferentes propostas de apreensão da cidade a partir sobretudo de práticas narrativas da experiência urbana, enfocaremos sobretudo algumas formas narrativas menores ou micronarrativas (contrapontos às grandes narrativas modernas), que enfatizam as questões da experiência, do corpo e da alteridade na cidade e, assim pretendemos promover um campo interdisciplinar de interlocução sobre o tema proposto. Neste sentido, cada apresentação responderá a uma mesma questão: « como pensar a apreensão da cidade contemporânea? », a partir de campos de conhecimento distintos.
Margareth da Silva Pereira, propõe discutir a questão a partir das pistas propostas pela historiografia, pelo estudo da História e, sobretudo, da memória. Ela propõe a ideia de nebulosas como uma forma possível, precária e contingente, de discussão das narrativas compartilhadas das memórias coletivas urbanas. Cibele Saliba Rizek, por sua vez, a partir do campo das Ciências Sociais, em particular da Sociologia e da Antropologia, trata das práticas etnográficas de trabalho de campo, das narrativas resultantes e de como essas incursões e essas narrativas etnográficas podem contribuir para uma compreensão das especificidades das cidades contemporâneas. Thais Portela, busca responder a questão da apreensão da cidade contemporânea a partir da pista deixada por Ana Clara Torres Ribeiro, em particular com a experiência da Cartografia da Ação Social, que mais do que um simples método analítico, se mostraria também como um instrumento de luta política. Ela tenta relacionar esse tipo de Cartografia a uma discussão político-estética. Fabiana Dultra Britto, a partir do campo da Dança e das artes do Corpo, toma a ideia de corpografia urbana, um tipo de cartografia no próprio corpo de quem faz a experiência urbana, como possibilidade analítica. Ela toma como pressuposto fundamental, para discutir a apreensão da experiência da cidade, a ideia de coimplicação entre corpo e ambiente. Paola Berenstein Jacques, por fim, questiona os limites do tradicional « diagnóstico urbano » e propõe pensar se uma certa ideia de montagem, a partir do campo das Artes, poderia atuar como um outro modo de apreensão e compreensão da cidade contemporânea. Além das cinco apresentações individuais, teremos dois debatedores convidados, os professores Frederico Guilherme B. Araújo e Fernando Gigante Ferraz, que trabalham na interface com os campos da Linguística e da Filosofia, buscarão colocar questões e fazer uma síntese geral dos trabalhos apresentados.  

Publicado
2018-10-15
Seção
Sessão Livre