ST6 - 416 A CRÍTICA DO ESPAÇO E O ESPAÇO DA CRÍTICA

  • Henri Acselrad
Palavras-chave: Conflitos ambientais, controvérsias científicas, liberdade acadêmica

Resumo

O debate das questões ambientais incide sobre objetos complexos, em torno ao qual enfrentam-se interesse contraditórios, entrecruzam-se competências múltiplas e desenvolvem-se controvérsias científicas e políticas. Ocorre que a temporalidade da controvérsia científica não é a mesma da temporalidade do debate político. Uma incerteza se produz, dado que o saber especializado não consegue fechar o debate, mas, sim, com freqüência, contribui para abri-lo com relação a valores. Observa-se, assim, crescente disputa por apropriação social da incerteza: interesses econômicos e políticos, por exemplo, dela utilizam-se para fins de desresponsabilização e validação de seus projetos quando estes são tidos, por outros atores sociais, como de grande impacto social e ambiental. Em consequência, ao invés do debate fundar-se no reconhecimento da historicidade de seu objeto e no direito à incerteza epistemologicamente fundada, observa-se forte pressão dos grandes interesses sobre a autonomia nas condições de produção do conhecimento científico. Assim é que vemos multiplicarem-se os episódios em que conflitos ambientais duplicam-se em conflitos cognitivos, em que interesses econômicos e políticos ora desqualificam conhecimentos científicos cuja consideração levaria à redução da rapidez e do volume de seus ganhos esperados, ora investem recursos próprios no financiamento de documentos que venham contradizer as críticas e dar legitimidade científica a seus projetos. O presente trabalho pretende discutir casos em que grupos de interesse e coalizões políticas, cujos projetos são objeto de controvérsia ambiental, procedem à interpelação judicial de pesquisadores, promovem campanhas públicas de intimidação, impetram ações judiciais, constrangendo a liberdade acadêmica, o direito à palavra e à informação.

Publicado
2018-10-09
Seção
Sessões Temáticas