GT4 - 857 TERRITÓRIOS EM CONSTRUÇÃO: BAIRRO, CLASSE E AÇÃO COLETIVA NA PERIFERIA DE BUENOS AIRES NA DÉCADA DE 2000.

  • Javier Walter Ghibaudi

Resumo

No início da década de 2000, ganham visibilidade na Argentina movimentos sociais que reivindicam relações de trabalho e de poder opostas às dominantes. Particularmente, no ano de 2002, aparecem no dia a dia da imprensa passeatas, ocupações de espaços públicos e privados, e reivindicações diante do poder público de diversos grupos que envolviam assembléias de bairro nos grandes centros, os movimentos de trabalhadores desempregados ou piqueteros, e as fábricas recuperadas – pela ocupação de estabelecimentos por seus trabalhadores reivindicando sua gestão cooperativa. Grande parte desses fenômenos, por sua vez, tem como marco territorial fundamental os principais centros urbanos do país, especialmente a área metropolitana de Buenos Aires (AMBA) e reivindicam também uma ação e identidade territorial, no “bairro”.
Este trabalho busca discutir sobre os processos de ação coletiva de dominados, seus agentes e escalas de ação concretas na Argentina contemporânea e na sua relação com os processos mais gerais de desigualdade territorial. Com esse objetivo reflete a partir de dois casos de organizações de desempregados na Periferia Área Metropolitana de Buenos Aires (AMBA) durante a década de 2000, prestando especial atenção à sua articulação com as transformações na ação do Estado e aos processos de luta de classes e de territorialização vigentes. Entende-se territorialização como o processo a partir do qual relações de poder – nas suas dimensões econômica, social e política – tentam ser construídas no e pelo espaço, seguindo a síntese proposta por Haesbaert (2004). Os movimentos piqueteros enfatizam na sua proposta de ação pública e coletiva uma estratégia centrada na escala do bairro, e parecem assim continuar a trajetória de ações pretéritas de organização popular em Buenos Aires, como as ocupações de terras e organização de serviços no começo da década de 1980 ou, mais longe ainda, as sociedades de bairro surgidas com a imigração na primeira metade do século XX . Para a categoria de classe segue-se a proposta conceitual de E.P. Thompson (2001) quando enfatiza o caráter histórico, processual e relacional das práticas e valores que permitem a identificação de um grupo social em relação a outros a partir de um processo não pré-determinado que vai se construindo ao longo do tempo, sendo central também para este autor um outro conceito: o de lutas de classes.

Publicado
2018-11-26
Seção
Sessões Temáticas