SL22 Corpo Ocupa: relações entre corpo e espaço

  • Eber Pires Marzulo
  • Frederico Bandeira Araujo
  • Marcelle F. Louzada
  • Wenceslao Machado de Oliveira Jr
  • Ana Cabral Rodrigues
  • Alice Tavares
  • Aroldo Claro
  • Jessica Motta
  • Jéssica Kelly Soares
  • Lucas Bezerra
  • Raisla Monique das Chagas
  • Rhaíssa Amaral
  • Walcler da Lima Mendes Jr
  • Juliana Michaello M. Dias
  • Eber Pires Marzulo
Palavras-chave: cartografia, reprodutibilidade, pós-colonial, territórios sonoros, sertão, paisagem sonora, corpo, territorialidade, subjetividade, poéticas do corpo, cinema, videocartografia

Resumo

Corpo Ocupa: relações entre corpo e espaço Cuerpo Ocupa : relaciones entre cuerpo y espacio

Coordenador: Eber Pires Marzulo, Programa de PósGraduação em Planejamento Urbano e Regional – PROPUR/UFRGS, Coordenador Grupo de Pesquisa Identidade eTerritório, Professor, eber.marzulo@ufrgs.br

Debatedor: Frederico Bandeira Araujo, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ, Coordenador Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura, Professor, fredaraujo2048@gmail.com

A questão das relações entre corpo e espaço ainda não ocupam a centralidade que parece devida à reflexão no campo dos estudos espaciais, mesmo tendo tradição na história social, como na obra seminal de Sennet, ou nas investigações reunidas no Corpo Cidade, evento já clássico para o debate de experiências de intervenções na cidade tendo como disparador propostas artísticas. As articulações explícitas entre ações artísticas, em particular de caráter performático, e as questões urbanas, em especial a partir das manifestações mundiais na crise do capital financeiro global em 2008, e no Brasil desde as mobilizações de 2013 até os dias de hoje, colocaram como urgente e incontornável o aprofundamento de tais relações em nosso campo. As ações artísticas de caráter explicitamente contestatório a políticas urbanas ou a questões políticas em geral, como nas manifestações contra o impeachment no primeiro semestre de 2016 e no segundo de oposição a políticas de auteridade de governos estaduais e federal, posicionam o corpo como dimensão fundamental para o entendimento das questões do presente. questão das relações entre corpo e espaço ainda não ocupam a centralidade que parece devida à reflexão no campo dos estudos espaciais, mesmo tendo tradição na história social, como na obra seminal de Sennet, ou nas investigações reunidas no Corpo Cidade, evento já clássico para o debate de experiências de intervenções na cidade tendo como disparador propostas artísticas. As articulações explícitas entre ações artísticas, em particular de caráter performático, e as questões urbanas, em especial a partir das manifestações mundiais na crise do capital financeiro global em 2008, e no Brasil desde as mobilizações de 2013 até os dias de hoje, colocaram como urgente e incontornável o aprofundamento de tais relações em nosso campo. As ações artísticas de caráter explicitamente contestatório a políticas urbanas ou a questões políticas em geral, como nas manifestações contra o impeachment no primeiro semestre de 2016 e no segundo de oposição a políticas de auteridade de governos estaduais e federal, posicionam o corpo como dimensão fundamental para o entendimento das questões do presente. Por um lado, as ações artísticas de intervenção pública no espaço urbano tem como elemento fundamental a imposição de corpos no espaço. A disputa pelo espaço público como problema cada vez mais incisivo para a ideia de cidade e da experiência urbana apresenta, nos últimos anos, a performance corpórea como tática central no enfrentamento das estratégias generalizadas do capital, através da agencia direta e imediata do Estado, de privatização do espaço público. As práticas artísticas, aliás, rompem não só os espaços consagrados de exposição e produção, como também as divisões entre artes cênicas, visuais e musicais. Ou seja, a incidência da arte na política emerge superando institucionalizações estabelecidas no campo das artes, como também problematizam referencias da questão urbana e do espaço. Por outro lado, o caráter performático cabe ser reassaltado porque não está apenas na realização de performances de coletivos de artistas nas manifestações e protestos. As questões urbanas e espaciais se tornam artísticas, na medida em que as táticas contestatórias incorporam práticas da performance. Coletivos e movimentos atuam de modo conjunto apresentando uma unidade performática marcada pela diversidade e pelo emprego de técnicas corporais como eixo das táticas de resistência. Nas manifestações, os diferentes grupos, sejam coletivos, associações, entidades ou movimentos sociais dos mais diversos matizes se impõem conquistando o espaço público que vem sendo diminuído por projetos urbanos de privatização simples ou de aburguesamento que tem como efeito inevitável a restrição de uso a determinados grupos com capacidade aquisitiva para consumirem estes espaços. Assim, a questão da privatização dos espaços públicos ou a restrição à mobilidade urbana tem como ação de resistência a ocupação e a afirmação do caráter público e de uso universal dos espaços urbanos. Desse ponto de vista, são ações performáticas porque instauram no modo de protestar aquilo porque protestam: o uso público do espaço. O movimento mundial pelo uso urbano como modal de mobilidade de bicicletas Massa Crítica (Critical Mass) pode esclarecer a abordagem. Trata-se sem dúvida de uma ação performática, não só pelas ações artíticas que ocorrem nas manifestações mensais do movimento, mas pela forma de atuação do movimento ao ocupar as vias públicas com dezenas, centenas de ciclistas, eventualmente milhares. Pra quem vê uma performance. Gente colorida, som alto, bicicletas que são adereços, atores com figurinos ocupando as ruas e avenidas em disputa com os automóveis privados. Talvez aqui, uma torção na ideia da sociedade do espetáculo, pois agora o espetáculo vem das ruas, com caráter público e radicalmente democrático. A performance como tática então não se restringe as ações especificamente artísticas. No entanto estas são centrais, pois contaminam o ambiente e permitem a apropriação de ações artísticas por diferentes grupos de modo associado ou não. As mãos que balaçam no ar como sinal de concordância com alguma fala ou não sem a interrupção por apupos ou palmas, consagrado pelo Occupy Wall Street em 1998, ou o uso do jogral como forma de estender o alcance da leitura de manifestos a grandes concentrações, abrindo mão de sistemas de som que teriam que ser, paradoxalmente, mais potentes e sofisticados quanto maior a participação nos atos e, logo, mais dispendiosos e desconfortáveis, são práticas nitidamente oriundas das artes cênicas que tem como vetor o uso dos corpos que estão ali não mais como invólucro apenas de um pensamento ou crença, mas como parte fundamental das ações. O contexto socioistórico então coloca na berlinda o corpo como elemento central e não mais como instrumento para o pensamento e idearios. concordância com alguma fala ou não sem a interrupção por apupos ou palmas, consagrado pelo Occupy Wall Street em 1998, ou o uso do jogral como forma de estender o alcance da leitura de manifestos a grandes concentrações, abrindo mão de sistemas de som que teriam que ser, paradoxalmente, mais potentes e sofisticados quanto maior a participação nos atos e, logo, mais dispendiosos e desconfortáveis, são práticas nitidamente oriundas das artes cênicas que tem como vetor o uso dos corpos que estão ali não mais como invólucro apenas de um pensamento ou crença, mas como parte fundamental das ações. O contexto socioistórico então coloca na berlinda o corpo como elemento central e não mais como instrumento para o pensamento e idearios. Se tal ação contemporânea dos corpos impõem a necessidade dos estudos espaciais se reterem com seriedade e profundidade sobre a questão das relações entre corpo e espaço e entre estudos espaço-territoriais e práticas artísticas, no âmbito da produção científica, em termos estritos, a questão da corporeidade como traço de distinção do que é humano ou não aparece nas últimas décadas na fronteira do conhecimento em diversas ciências e campos. Estabelecida classicamente, os estudos das capacidades humanas de interação tendo como vetor as possibilidades e limitações do corpo, desde a ideia de cnesfera, sofrem problematização, na medida em que se desenvolvem transformações tecnológicas que incidem sobre os limites estabelecidos culturalmente para o uso do corpo. Não se trata do problema trazido pela ideia de ubiquidade derivada da possibilidade das transmissões ao vivo permitir que se interagisse em mais de um espaço ao mesmo tempo, apenas; mas do desenvolvimento de próteses capazes de alterar profundamente os limites até então estabelecidos aos corpos. Dentro de problematização semelhante, mas em outra direção, o corpo como sendo traço indissociável de uma ideia de natureza humana e assim de direitos, fica problematizado frente a investigações que constroem outras possibilidades de interação cultural que superam o humano enquanto uma unidade constituída por um corpo. Ambas as perspectivas aparecem no interior de estudos do nãohumano. Seja a relativização do corpo como traço último de uma humanidade, desde as transformações possíveis pelo desenvolvimento tecnológico às faculdades dos corpos; seja a possibilidade de corpos não-humanos, de animais, plantas, minerais, deidades etc fazerem parte do humano, como aponta o perspectivismo amazônico; seja ainda a possibilidade do estatuto jurídico de pessoa não-humana atribuído a orangotango Sandra em Buenos Aires. Sem tentar abranger tal extensão que a relação corpo-espaço propõe, a ideia desta Sessão Livre é contribuir para a instauração no âmbito da ANPUR da questão, em virtude de sua atualidade e urgência, a partir da produção de grupos de pesquisa que tem como traço comum trazer novos problemas ou temáticas para a área do Planejamento Urbano. Adianta-se, porém, que os trabalhos propostos a seguir, serão provocados nos marcos da reflexão acima. Para a discussão, estarão reunidos grupos de pesquisa que já tem estabelecido uma tradição de encontros em sessões livres (Belém, 2007; Florianópolis, 2009: Rio, 2011; Recife, 2013; Belo Horizonte, 2015) ou mesa-redonda (Salvador, 2005), logo nas últimas seis (6) edições do EnANPUR, sempre contando com grupos convidados e participantes do campo do planejamento urbano e regional interessados nas questões propostas pelos grupos anfitriões. Cabe ressaltar que GPIT/UFRGS, GPMC/UFRJ, Nordestanças/UFAL e Desutilidades Urbanas/UFF pertencem a mesma rede grupos de pesquisa de escala latinoamericana – Rede Latinoamericana Imagem, Identidade e Território (Rede LAIIT), em processo de se tornar iberoamericana. Reúnem-se nessa SL estudos sobre Territórios sonoros: a dimensão cultural da experiência dos sons urbanos, trabalho proposto pelo Grupo de Pesquisa Nordestanças (UFAL/Universidade Tiradentes); Poéticas do Corpo e Dramaturgias do Espaço Perimetral – um experimento com o jogo das metamorfoses, do Grupo de Pesquisa Olho/UNICAMP, grupo de pesquisa convidado e com histórico de interlocução com os demais grupos da Rede; Corpoterritorializações: Dizeres cidade, dizeres subjetividade, do Grupo de Pesquisa Desutilidades Urbanas/UFF; e Um Rinoceronte para Resistir ao Aburguesamento do Espaço Público do Grupo de Pesquisa Identidade e Território/UFRGS. demais grupos da Rede; Corpoterritorializações: Dizeres cidade, dizeres subjetividade, do Grupo de Pesquisa Desutilidades Urbanas/UFF; e Um Rinoceronte para Resistir ao Aburguesamento do Espaço Público do Grupo de Pesquisa Identidade e Território/UFRGS.

Palavras-chave: corpo, espaço, arte.

POÉTICAS DO CORPO E DRAMATURGIAS DO ESPAÇO

Marcelle Louzada, Programa de Pós-Graduação em Educação/UNICAMP, Doutoranda, marcelle.f.louzada@gmail.com

Wenceslao Machado de Oliveira Jr, Programa de Pós-Graduação em Educação/UNICAMP, Professor, wenceslao.oliveria@gmail.com

Em uma apropriação poética da cidade como suporte e/ou campo ampliado de/para trocas culturais, experimentações estéticas e sinestésicas que disparam aprendizados diversos, problematiza-se as relações envolvendo corpo e espaço urbano através de oficinas de criação que tem o cinema como principal dispositivo. A cartografia é selecionada como método de pesquisaintervenção, na elaboração de imagens em devires e desvios através de videocartografias. Trata-se de experimentar possibilidades de cidade através do encontro entre o cinema e dois lugares habitados de maneiras muito distintas no centro de São Paulo: um edifício ocupado por semtetos/refugiados e uma escola pública de ensino fundamental. Partindo do pressuposto de que corpo e espaço urbano estão co-implicados no processo de formulação de vida pública, a cidade é acionada como campo de investigação e criação de performances a um só tempo corporais e cinematográficas. Agenciadas por processos educativos do e com o cinema, as performances artísticas coletivas tem o intuito de provocar fissuras nas previsibilidades citadinas que configuram os modos de habitar dos moradores e estudantes dos dois lugares da pesquisa-intervenção, provocando neles devires outros: poéticas do corpo que se abrem para uma dramaturgia do espaço.

Palavras-Chave: poéticas do corpo, cinema, videocartografias.

CORPOTERRITORIALIZAÇÕES: DIZERES CIDADE, DIZERES SUBJETIVIDADE

Ana Cabral Rodrigues, Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (Volta Redonda-RJ), Professora, anacro@gmail.com

Alice Tavares, Aroldo Claro, Jessica Motta, Jéssica Kelly Soares, Lucas Bezerra, Raisla Monique das Chagas, Rhaíssa Amaral, Psicologia da Universidade Federal Fluminense (Volta Redonda-RJ), Graduação

Se as imemoriais artes de narrar encontram-se em declínio e se, com isso, nossa capacidade de intercambiar experiência, de fazê-la tecido que enlaça uma vida a outra, uma geração a outra, igualmente esfacela-se – conforme alerta-nos Benjamin (1996) – podemos assumir que estamos diante de uma injunção ética que nos exige atenção aos efeitos dessa fragmentação, ou melhor, exige-nos um posicionamento no que diz respeito aos usos que se podem fazer desses cacos, desses restos de uma tradição no tempo de agora. Propomos neste trabalho fazer ver a consistência e a urgência de tal injunção, por vias bastante distintas de uma proposição restaurativa, através do relato das construções metodológicas que temos realizado em nossa pesquisa, cujo objeto de investigação consiste no estatuto político da subjetividade. Este, sustentado através de experienciações corpóreo-territoriais com a palavra “cidade”. Tais experienciações se inscrevem numa metodologia desenvolvida na forma de oficinas de montagem. Nestas, o corpo – o próprio corpo do pesquisador – oferece-se como testemunha (Gagnebin, 2006), como território de passagem de histórias balbuciadas, trôpegas, precárias. Passagem de histórias que não se ouvem porque, cotidianamente, nem mesmo são reconhecidas como formas de narrar cidade. Este corpo-território-pesquisador mostra-se como categoria fundamental na composição das territorialidades (Guattari, 1985) pelas quais dizemos – no modo oficina – cidade e subjetividade a um só tempo. Compreendendo que por estas palavras não colocamos em jogo conceitos que têm a tarefa de revelar realidades subjacentes, mas antes acionar tensões e disputas que suas superfícies performam – e nas quais não podemos estar senão implicados, enredados. consistência e a urgência de tal injunção, por vias bastante distintas de uma proposição restaurativa, através do relato das construções metodológicas que temos realizado em nossa pesquisa, cujo objeto de investigação consiste no estatuto político da subjetividade. Este, sustentado através de experienciações corpóreo-territoriais com a palavra “cidade”. Tais experienciações se inscrevem numa metodologia desenvolvida na forma de oficinas de montagem. Nestas, o corpo – o próprio corpo do pesquisador – oferece-se como testemunha (Gagnebin, 2006), como território de passagem de histórias balbuciadas, trôpegas, precárias. Passagem de histórias que não se ouvem porque, cotidianamente, nem mesmo são reconhecidas como formas de narrar cidade. Este corpo-território-pesquisador mostra-se como categoria fundamental na composição das territorialidades (Guattari, 1985) pelas quais dizemos – no modo oficina – cidade e subjetividade a um só tempo. Compreendendo que por estas palavras não colocamos em jogo conceitos que têm a tarefa de revelar realidades subjacentes, mas antes acionar tensões e disputas que suas superfícies performam – e nas quais não podemos estar senão implicados, enredados.

Palavras-chave: corpo, territorialidades, subjetividade.

TERRITÓRIOS SONOROS: A DIMENSÃO CULTURAL DA EXPERIÊNCIA DOS SONS URBANOS

Walcler de Lima Mendes Junior, Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Tecnologias e Políticas Públicas da Universidade Tiradentes (SOTEPP | UNIT), Professor, walclerjunior@hotmail.com

Juliana Michaello M. Dias, Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado (DEHA | UFAL), Professora, jumichaello@yahoo.com.br

A partir de uma reflexão das camadas sonoras de percepção espacial, pretende-se discutir a paisagem sonora como constituidora de diferentes territórios. Para tanto, apresentaremos questões que se constituíram a partir de projetos de mapeamento cultural realizados pelo Grupo de Pesquisa Nordestanças no sertão alagoano. A identificação sonora de territórios naturais, suas fronteiras e estratégias de sobrevivência frente os impactos da ação do homem, os sons das fazendas, dos povoados, das cidades como vozes dos bichos domésticos, dos artefatos arcaicos e modernos, das festividades e cotidianidades, da gritaria da feira, especificam-se como uma experiência de catalogação e comparação, entre elementos arcaicos e modernos, discutindo a noção de paisagem sonora para além do campo da acústica, mas com ênfase nas dimensões sociais. Em termos teóricos partimos do conceito de paisagem sonora de Schaffer, já assimilando a crítica proposta por Giuliano Obici, que constitui a partir de reflexões deleuzianas, o conceito de território sonoro. Tal perspectiva conceitual coloca o acento nas dimensões sociais da paisagem sonora, entendida sempre sob a dinâmica cultural e histórica.

Palavras-chave: territórios sonoros; sertão; paisagem sonora.

UM RINOCERONTE PARA RESISTIR AO ABURGUESAMENTO DO ESPAÇO PÚBLICO

Eber Pires Marzulo, PROPUR/UFRGS, Professor, eber.marzulo@ufrgs.br

Rinocidade faz um jogo, uma brincadeira política ao plasmar a imagem de um rinoceronte sobre o centro de Porto Alegre tendo como fundo um clássico mapa da cidade de 1840 com intervenções na cartografia, na versão usada do mapa histórico, posteriores e daí a explicação para a imagem do Mercado Público de 1844-45 no mapa de 1840. Salienta o quanto é vivo o entorno ao Mercado, mercado que ficou localizado na barriga do rinoceronte, cuja imagem não só caracteriza a época de reprodutibilidade técnica da arte, mas marca a entrada do exótico colonizado na metrópole colonizadora. Aqui será marca de resistência à re-colonização pelo capital financeiro global do centro das cidades pós-coloniais já descolonizadas e contraposição à ideia que os centros precisam ser revitalizados. Como revitalizar o que é pleno de vida, se não matando a vida existente, popular, enraizada, cotidiana, trabalhadora, inventiva, misturada, orgânica, com cheiros, texturas, sons e sabores intensos? Apenas para aqueles que entendem que vivo se resume ao uso burguês e subordinado à lógica do mercado e da acumulação. A cartografia do centro de Porto Alegre pela imagem do rinoceronte é um gesto de resistência estética e, daí, necessariamente, político. Daí a cidade seja um laboratório. O entendimento da cidade como laboratório tem dois sentidos. No primeiro a cidade, enquanto espaço aberto e público é locus da experiência laboratorial; no segundo, os registros da imersão no ambiente urbano podem ter seus fragmentos articulados em novos jogos fragmentares.

Palavras-chave: cartografia, reprodutibilidade, pós-colonial.

Publicado
2019-05-11
Seção
Sessão Livre