SL7 Cronologia do pensamento urbanístico

Chronology of the urban thought

  • Paola Berenstein Jacques
  • Maria Stella Martins Bresciani
  • Margareth da Silva Pereira
  • Rita de Cássia Lucena Velloso
  • Ricardo Trevisan
Palavras-chave: urbanismo, heterocronias

Resumo

Cronologia do pensamento urbanístico Cronologia do pensamento urbanístico Chronology of the urban thought Coordenadora: Paola Berenstein Jacques, PPG---AU/FAUFBA, professora associada, paolabj@ufba.br Debatedora: Maria Stella Martins Bresciani, CIEC UNICAMP, professora emérita, sbrescia@lexxa.com.br

A presente proposta de sessão livre para o XVII Encontro Nacional da ANPUR, está diretamente relacionada à sessão temática “Cidade e História”. Pretendemos apresentar e discutir nossa própria produção de conhecimento historiográfico do urbanismo vinculada a uma pesquisa interinstitucional em curso– Cronologia do Pensamento Urbanístico1 – e, assim, problematizar questões metodológicas de nosso campo disciplinar (arquitetura, urbanismo e planejamento urbano), em suas relações com o campo mais amplo da história e, também, da filosofia da história. A presente proposta de sessão livre para o XVII Encontro Nacional da ANPUR, está diretamente relacionada à sessão temática “Cidade e História”. Pretendemos apresentar e discutir nossa própria produção de conhecimento historiográfico do urbanismo vinculada a uma pesquisa interinstitucional em curso– Cronologia do Pensamento Urbanístico1 – e, assim, problematizar questões metodológicas de nosso campo disciplinar (arquitetura, urbanismo e planejamento urbano), em suas relações com o campo mais amplo da história e, também, da filosofia da história. O principal objetivo do debate proposto é possibilitar o início de uma análise teórica metodológica do processo de uma pesquisa que completa, em 2017, quinze anos de desenvolvimento e interlocução contínuos, disponíveis na internet, entre duas equipes de trabalho, uma no grupo de pesquisa Laboratório Urbano do PPG---AU/FAUFBA, coordenada por Paola Berenstein Jacques, e outra no Laboratório de Estudos Urbanos do PROURB---UFRJ, coordenada por Margareth da Silva Pereira. Recentemente, duas novas equipes de trabalho foram incorporadas ao projeto coletivo, uma na UFMG, coordenada por Rita Velloso, e outro na UnB, coordenada por Ricardo Trevisan. Esta mesa será uma ocasião de debate entre as quatro equipes que vão apresentar, ao público presente, seus temas e metodologias específicas de trabalho. Para contribuir ao debate proposto, e no sentido de consolidar outra interlocução já iniciada, convidamos para atuar como debatedora, a historiadora e professora emérita Maria Stella Bresciani, fundadora do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre Cidade, sediado no departamento de História da UNICAMP. A debatedora deverá nos ajudar, com uma visão mais distanciada, a conduzir este debate a partir de nosso próprio processo de pesquisa, processo este que se modificou bastante ao longo de todos esses anos, sobretudo do ponto de vista metodológico. Nossa pesquisa coletiva é centrada na historiografia do pensamento urbanístico com foco na circulação de ideias urbanísticas. Nosso principal objetivo é subsidiar uma história intelectual do urbanismo, principalmente no Brasil, de modo a trazer novas perspectivas de análise e novos recortes no movimento atual de revisão historiográfica em torno desse campo disciplinar. O que nos interessa é justamente a tensão sincrônica entre diferentes ideias e pressupostos teóricos e, também, a sua capacidade de contaminação sistêmica e transgeográfica. A ambição mais relevante da pesquisa não é desenvolver simplesmente uma linha do tempo propriamente dita, uma cronologia linear mas, graças à linha do tempo, chamar a atenção para a circulação sistêmica e, muitas vezes, sincrônica ou anacrônica de dados entre determinados círculos urbanísticos, formando vastas redes de intercâmbio (e também de disputa ou conflito) intelectual, acadêmico, científico e artístico que atuam de maneira complexa. O site da Cronologia do Pensamento Urbanístico é uma ferramenta que permite cartografar e historiografar essas redes complexas que construíram e ainda constróem o pensamento urbanístico. Do ponto de vista teórico---metodológico buscamos auxiliar o trabalho em curso de revisão historiográfica do campo do urbanismo no Brasil, ao permitir questionar – pelos dados que divulga e permite cotejar – a pertinência do uso de noções como transferência, modelo e/ou influência ainda tributárias muitas vezes de uma visão linear, evolutiva e fechada de história que continua a balizar bom número de trabalhos da área, talvez por carência de cotejamentos finos e de instrumentos que evidenciem seus contrassensos e limites.

Procuramos mostrar as descontinuidades, as contradições e as emergências dos discursos urbanísticos (e dos projetos). Buscamos exercitar uma teoria da história que não fuja dos afrontamentos e das rupturas. Pretendemos apontar as heterogeneidades, emergências e desvios nas diferentes possibilidades de leituras dos dados, ou seja, não buscamos verdades, origens ou identidades perdidas, assim como não procuramos pacificar a história das ideias urbanísticas. Procuramos mostrar as descontinuidades, as contradições e as emergências dos discursos urbanísticos (e dos projetos). Buscamos exercitar uma teoria da história que não fuja dos afrontamentos e das rupturas. Pretendemos apontar as heterogeneidades, emergências e desvios nas diferentes possibilidades de leituras dos dados, ou seja, não buscamos verdades, origens ou identidades perdidas, assim como não procuramos pacificar a história das ideias urbanísticas. Ao longo desses anos temos exercitado desenvolver coletivamente uma forma cada vez mais complexa de pensar a história do pensamento urbanístico, um tipo de “cronologia” que não seja linear e, atualmente, estamos trabalhando experimentalmente a partir de uma ideia de nebulosas proposta por Margareth da Silva Pereira e, também, por uma forma de pensar por montagens, desenvolvida por Paola Berenstein Jacques. O principal objetivo da proposta desta sessão é situar melhor nosso esforço dos últimos anos, tanto dentro da historiografia do urbanismo no país quanto dentro dos debates mais recentes do campo da história, em particular da teoria e metodologia da história, ampliando assim a discussão para outros pesquisadores que trabalham com história urbana, das cidades e do urbanismo. Na sessão proposta, Margareth da Silva Pereira apresentará a noção de nebulosas – construída a partir de insumos das reflexões de Christian Topalov sobre o movimento de reforma social na França na segunda metade do século XIX – com a qual trabalha e vem sendo adotada na pesquisa em andamento. Paola Berenstein Jacques buscará investigar duas outras noções complementares de formas mais complexas e não lineares para pensar as cronologias: a montagem, sobretudo a partir de Walter Benjamin, e também a sobrevivência (Nachleben), a partir de Aby Warburg e, mais recentemente, de Georges Didi Huberman, esboçando assim uma ideia de heterocronias. Rita Velloso apresentará uma cronologia de insurreições pensada desde os conceitos de Jetztzeit (tempo do agora) de Walter Benjamin, acontecimento (François Dosse) e momento (Henri Lefebvre). Por fim, Ricardo Trevisan apresentará uma cronologia das cidades novas do Brasil republicano, identificando distintas portas de entrada e tantos arranjos possíveis de leitura e interpretação das centenas de exemplares brasileiros. Pretendemos, nessa sessão livre, além de apresentar a pesquisa e as novas cronologias em desenvolvimento pelas equipes recentemente incorporadas à equipe interinstitucional, articular a ideia já em desenvolvimento, de nebulosas do pensamento urbanístico, com as ideias de sobrevivências, montagens e heterocronias, buscando uma forma complexa de pensar a circulação de ideias urbanísticas e a historiografia do urbanismo. Buscamos, assim, contribuir para uma melhor compreensão da historicidade dos debates sobre as cidades e, também, da complexidade da circulação das ideias urbanísticas, através das “nebulosas” de ideias das principais teorias urbanas contemporâneas e de seu rebatimento na prática do urbanismo. Buscamos mostrar, a partir da ideia de “nebulosas”, articulada com outras noções – como sobrevivências, montagens e heterocronias – as diferentes redes de pensamento urbanístico e, assim, contribuir para uma compreensão mais complexa da história do pensamento urbanístico. Buscamos também contribuir para problematizar a dimensão da memória, sobretudo a partir da noção de sobrevivências, a partir e Aby Warburg, em suas relações com a história no campo narrativo e historiográfico. Acreditamos que dentro do importante fórum de debate científico---acadêmico na área de estudos urbanos proposto pelo XVII Encontro da ANPUR, a discussão historiográfica, ao aprofundar a discussão acerca das questões históricas e mnemônicas, seja fundamental para buscarmos uma compreensão mais complexa de nosso tempo presente, desse momento atual, extremamente conturbado, tanto no país quanto no mundo. (Palavras chave: Pensamento Urbanístico, Cronologia, Nebulosas.)

PENSAR POR NEBULOSAS OU DO ARBÍTRIO E DA ARBITRARIEDADE: QUESTÕES DE HISTORIOGRAFIA E DE MÉTODO Margareth da Silva Pereira, PROURB/FAU – UFRJ, professora titular, margaspereira@gmail.com PENSAR POR NEBULOSAS OU DO ARBÍTRIO E DA ARBITRARIEDADE: QUESTÕES DE HISTORIOGRAFIA E DE MÉTODO Margareth da Silva Pereira, PROURB/FAU – UFRJ, professora titular, margaspereira@gmail.com O trabalho do historiador tem algo de paradoxal. Ao se debruçar sobre o que é considerado como "tempo morto" pode ser lido como um ato de isolamento, retiro e, até, de fuga do presente. Assim, com frequência ele é visto de modo desenraizado, inatual, silencioso, e solitário. Contudo, em seu trabalho, o historiador --- tenha ou não consciência disso --- não só questiona o próprio presente e a atualidade. Ele interroga a própria noção de tempo, ao tornar justamente presença algo que estando esquecido, estava em uma acronia. Isto é, estava mergulhado tanto nos inúmeros tempos que sedimentam memórias, lembranças, histórias e reminiscências e nessa sua situação latente, estava destituído seja de um sentido individual seja das possibilidades de se constituir como um significado coletivo. A comunicação buscará mostrar como em fabuloso trabalho individual e coletivo podem ser tecidas cadeias de sentidos que emergindo de uma dimensão subjetiva e individual insiste, propõe e possibilita significados comuns. Essas cadeias não formam nós, não têm centro, nem pontos. Insistem em mostrar---se como múltiplas teias que formam configurações instáveis mas que permitem leituras minimamente compartilhadas: as nebulosas. Grandiosas, pequenas, vaporosas, densas, frágeis, esgarçadas, etéreas ou anunciando tempestades a prática historiográfica ao pensar o tempo e os sentidos metaforicamente como a construção de nebulosas permite e aqui mais um paradoxo mostrar a sua parte de sucessivos ajuizamentos --- e neste sentido, certamente, de arbítrio mas também seu desafio e esforço de afastar-se da arbitrariedade.

MONTAGENS, SOBREVIVÊNCIAS: HETEROCRONIAS? Paola Berenstein Jacques, PPG---AU/FAUFBA, professora associada, paolabj@ufba.br MONTAGENS, SOBREVIVÊNCIAS: HETEROCRONIAS? Paola Berenstein Jacques, PPG---AU/FAUFBA, professora associada, paolabj@ufba.br Como poderíamos tentar atualizar a ideia, proposta por Aby Warburg, de Nachleben, traduzida como sobrevivência? Como pensar as sobrevivências de uma época que emergem em outras distintas, provocando um choque entre tempos heterogêneos? Como considerar a complexidade de tempos distintos, através das sobrevivências, das emergências de outros tempos, das reminiscências de tempos diferentes que ganham sobrevida em outros tempos, que vivem além de seu próprio tempo criando uma mistura de tempos heterogêneos que podemos chamar de heterocronismos ou heterocronias. Como trabalhar essas heterocronias no campo da história e, em particular, da história das cidades e do urbanismo? Walter Benjamin em seu trabalho inacabado das passagens (Passagen---Werk) propõe uma forma específica de trabalhar com as heterocronias a partir da ideia de montagem (literária urbana), um tipo de conhecimento que se dá pela montagem. Seria possível pensarmos a história das cidades e o do urbanismo também de uma forma menos homogênea, mais complexa, a partir de suas diferenças, heterogeneidades temporais? A ideia da montagem nos indica uma forma complexa de pensamento que parte da heterogeinidade, em particular da coexistência de tempos heterogêneos: heterocronias. Ao relacionar as ideias de montagem, sobrevivência e heterocronia pretendemos problematizar o próprio campo da história das cidades, do urbanismo e do pensamento urbanístico, a partir das montagens de tempos heterogêneos.

CRONOLOGIA DE INSURREIÇÕES, OU HISTÓRIA URBANA ESCRITA A CONTRAPELO Rita de Cássia Lucena Velloso / Apresentadora, EAU UFMG, professora adjunta, ritavelloso@gmail.com CRONOLOGIA DE INSURREIÇÕES, OU HISTÓRIA URBANA ESCRITA A CONTRAPELO Rita de Cássia Lucena Velloso / Apresentadora, EAU UFMG, professora adjunta, ritavelloso@gmail.com Na oitava de suas Teses sobre a história Walter Benjamin considerava os documentos da cultura todos como documentos forjados na bárbarie, a mesma violência se estendendo aos processos de transmissão da cultura, indo de vencedor em vencedor, de dominador a dominador. Com a historiografia urbana, configurada tanto na narrativa sobre cidades, no repertório imagético das formas urbanas, quanto na descrição dos planos urbanísticos, não se passa algo diverso, uma vez que dessa historiografia exclui---se, quase que inteiramente, a voz dos que se levantaram contra a opressão política e ergueram barricadas, marcharam para bloquear ruas e estradas, lutaram nos lugares urbanos de sua vida cotidiana. Perguntar por uma correlação entre insurgências urbanas e os espaços sobre os quais estas se desenrolaram exige, ainda segundo Benjamin, se dedicar à tarefa de escovar a história a contrapelo. Ou seja, dar relevo a episódios e ações que restaram soterradas sob tecidos urbanos consolidados implica em conceber um caminho historiográfico que dê conta de uma filosofia do acontecimento, numa matriz reflexiva que começa em Benjamin e chega aos dias de hoje, com autores tão diversos quanto próximos como S. Kracauer, Henri Lefebvre, Raymond Williams, Michel Foucault, G. Deleuze, Felix Guattari, Pierre Nora e François Dosse.

CRONOLOGIA DE CIDADES NOVAS Ricardo Trevisan / Apresentador, PPG FAU UNB, professor adjunto, prof.trevisan@gmail.com CRONOLOGIA DE CIDADES NOVAS Ricardo Trevisan / Apresentador, PPG FAU UNB, professor adjunto, prof.trevisan@gmail.com Práxis sucessiva na história do urbanismo, a tipologia Cidade Nova – composta por núcleos urbanos intencionalmente criados – pode ser rastreada na longa duração como campo de leitura e interpretação de pensamentos, discursos e representações de cidades materializadas no espaço e no tempo, como casos de continuidade, ruptura ou excepcionalidade e em conjunturas político--- econômico---sócio---culturais diversas. A depender da porta de entrada escolhida, tramam---se distintas urdiduras e tessituras, definem---se procedimentos e métodos específicos, revisitam---se e revisam---se certezas e narrativas conclusivas. Pela função dominante original (administrativa, empresarial, balneária, colonizadora, de relocação, satélite, de expansão); pelas personagens envolvidas (empreendedores, planejadores, projetistas, construtores, habitantes); pelos atributos físicos assumidos (sítio, projetos urbano e arquitetônico, paisagem, zoneamento); pelo contexto histórico (aspectos político---econômico---social); cada investigação sobre Cidades Novas direciona seu lineamento e estabelece suas aproximações e, por conseguinte, suas distinções. Ao delimitar o Brasil republicano como período fulcral, tendo Belo Horizonte como marco urbanístico principiante, a atual pesquisa intenta cartografar e historiografar os mais de duzentos e quarenta exemplares brasileiros identificados nos últimos cento e vinte anos. A partir dessa constelação, as mais distintas “nebulosas” podem ser captadas, registradas e decifradas. Um atlas de Cidades Novas que permitirá ao interessado montar a critério ou aleatoriamente a sua nebulosa, a exemplo daquela sobre Brasília, na qual projetos, biografias, paisagens, fatos e bibliografias se colocam e se conectam a fim de retratar a capital federal do país. Uma dentre outras possibilidades exponenciais de compreender e contribuir à historiografia da cidade e do urbanismo.

Publicado
2019-05-08
Seção
Sessão Livre