ST 1 O CAMINHO DA HETEROTOPIA NAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS
Lutero Pröscholdt Almeida
UFES
Bruno Bowen Vilas Novas
PPGAU / UFES
Resumo
De uma janela de um escritório vê-se um grupo de casas que provavelmente não seriam
identificadas como algo em território brasileiro, um empreendimento privado cujo nome e
arquitetura remetem a um modo de vida italiano. Tal conjunto de casas é cercado por grandesgrades de metal, o que parece ser algo depreciativo (as grades), nas circunstâncias de seu
marketing de venda é tratado como um “diferencial”. Aliado a uma cultura de medo, fomentada
por todas as mídias, o status de condomínio privado é algo reverenciado pelo marketing das
construtoras e imobiliárias, e consequentemente se torna um padrão adotado por todos os
consumidores de moradias. Tal comportamento marqueteiro, acerca dos espaços privados,
conforma uma realidade em que cada vez mais os espaços privados se sobressaem aos espaços
ditos públicos. Portanto, o espaço “público”, cada vez mais entra em uma crise o qual é
normalmente vinculado a um ambiente degradado, perigoso, sujo e violento. Em contrapartida o
“privado” avança cada vez mais nas bases dos adjetivos: privado, imponente, beleza, sustentável,
familiar e segurança, travando uma guerra subjetiva e dual com o público. Para o marketing
consubstanciado pelas mídias, de um lado estaria o espaço público degradado e ineficiente, e do
outro, estaria o espaço privado com sua estrutura impecável e eficiente.
Os espaços privados da cidade podem ser compreendidos segundo o que o filósofo Michel
Foucault discorre como heterotopia, supondo-se que ela seja uma grande ferramenta teórica de
articulação desses lugares. Foucault pensa este espaço onde a vida é comandada por espaços
sacralizados, fechados e que se referem a outros lugares como certos espaços temáticos
(Foucault, 2001, p.411). Para ele os espaços da cidade hoje são determinados pelo
posicionamento em relação a sua vizinhança, não é mais como na Idade Média um padrão
hierarquizado, como os espaços sagrados e profanos ou os urbanos e rurais1. Portanto, o espaço
urbano como um espaço de posicionamento não pode ser tratado como uma lógica dicotômica ou
segmentada, como um espaço vazio ou homogêneo de sentido, pois ele é composto por uma
heterogeneidade.