ST 9 Da potência das ruas à impotência dos sujeitos: uma política entre corpos, afectos e cidade
Gabriel Schvarsberg
IPPUR / UFRJ
Resumo
Desde as revoltas urbanas de 2013, um novo (pero no mucho) componente instalou-se sem ser convidado na cartografia política brasileira: “as ruas”. Foi numa inesperada atualização dessa experiência comum que cidade e cidadãos anônimos encontraram um meio de fazerem-se presentes em lapsos de democracia selvagem, produzindo efeitos que desestabilizaram o aparente consenso neodesenvolvimentista da primeira década deste século. Enunciadas muitas vezes como espécie de entidade com voz e vida própria,“as ruas” transportam afectos desejantes de outra democracia, outra política, outra cidade, outros agenciamentos, ainda que estas outridades não tenham forma e que essas ruas não sejam uma coisa só. Corporifica-se em atos, manifestações, ocupações, performances, blocos carnavalescos e variadas hibridações que espacializam e enunciam ruas, mobilizando da esquerda à direita do espectro político, produzindo novas conexões e capturas, corpos e narrativas atravessados profundamente por atualizações das relações entre cidade e política. O trabalho convida a um percurso fragmentário por aparições de duas "ruas" num Rio de Janeiro atual, tentando extrair algumas consequências de levar a sério essa “entidade” precisamente como entidade ou ecceidade: individuações sem sujeito. Desde um modo cartográfico de inspiração Deleuze-Guattariano-Spinozista que focaliza a produção dos corpos, emergem pistas de uma crise da subjetividade fabricada nas tensões entre macro e micropolítica, na potência dos afectos e nos devires abertos nas composições entre corpo, enunciação e espaço.