ST 1 “URBANIZAÇÃO PELA ÁGUA” VIESES DE ORDENAMENTO TERRITORIAL E DE GESTÃO URBANA
Fabiano Rocha Diniz
UFPE
Resumo
Ao longo das últimas décadas, as previsões acerca do impacto das mudanças
climáticas vêm se confirmando. A ocorrência mais constante de eventos extremos é um efeito
aparente do descompasso entre o ritmo de crescimento das aglomerações humanas e a capacidade
do meio de suportá-lo. Concentrado nas grandes cidades, esse fenômeno encontra nos “desastres
naturais” sua expressão mais gritante, com o acúmulo de danos materiais e perdas de vidas
humanas. Apenas no ano de 2010, o Brasil contabilizou 1.635 desastres causados por eventos
extremos relacionados às águas pluviais, sendo 1.028 registros ligados a chuvas excepcionais
(tempestades, inundações, deslizamentos de terras).
As ações públicas para enfrentar esse quadro são marcadamente “reativas”, em
detrimento de ações preventivas. Em 2009, os gastos concentraram-se em “respostas aos
desastres e reconstrução”, com R$ 1,3 bilhões aplicados, enquanto as ações de “prevenção e
preparação para os desastres” receberam apenas R$ 138 milhões. Recentemente, entrevê-se uma
mudança de postura: até outubro de 2014, haviam sido investidos cerca de R$ 2,8 bilhões em
ações de caráter preventivo, indicando uma possível inversão de prioridades das políticas
públicas nesse domínio (Associação Contas Abertas, 2014).
Essa tendência se coaduna com a compreensão de que, nas origens dos desastres,
encontram-se aspectos “não-naturais”. Como explicita Cardona (1993), os desastres podem ser
melhor entendidos como resultantes da interação entre elementos de ordem física (condições do
sítio; eventos como tempestades e inundações) e de ordem social (existência de populações
expostas a riscos). Diante desse quadro, o elemento que realmente provoca os acidentes é o
“comportamento humano”: as formas como se organizam os assentamentos – segundo
condicionantes como as dinâmicas socioeconômicas, a distribuição das infraestruturas, a
governança da produção do espaço, a educação para a convivência com os perigos etc.