Os estudiosos de migração tem destacado, já há algum tempo, o papel
preponderante que as redes sociais exercem nos movimentos migratórios. Elas atuam como
facilitadoras dos deslocamentos da população, quando reduzem o grau de incerteza com que
os migrantes se deparam. As redes de contatos dos indivíduos envolvidos com a migração
configuram assim verdadeiras “redes migratórias”.
O fato dos indivíduos residirem em determinadas localidades, tanto antes como
depois da migração, configura um “espaço de vida” dos migrantes (COURGEAU, 1988).
Pode-se falar então que as redes migratórias possuem uma dimensão espacial, cuja “marca”
no território sugere a existência de “regiões de migração” ou “redes de lugares”.
O objetivo deste trabalho é discutir, conceitualmente, o processo de espacialização
das redes migratórias. Serão apresentadas as principais características das redes migratórias e
os mecanismos responsáveis por sua espacialização. Além da discussão conceitual, serão
apresentados exercícios empíricos que servem tanto para demonstrar a aplicabilidade dos
conceitos discutidos assim como para a formulação e reformulação desses mesmos conceitos.
A relação entre redes sociais e migração algumas vezes tem adquirido um caráter
metafórico ou mitológico (FAZITO, 2002; SOARES, 2002). Isso ocorre tanto pela simples
afirmação da existência de redes sociais, sem que seja feita nenhuma tentativa de mensuração
ou constatação empírica de sua presença, quanto pela escassez de estudos que discutam, de
maneira aprofundada, os mecanismos de funcionamento dessas redes. Apesar de fácil
compreensão, as redes sociais são um fenômeno de difícil mensuração. O presente trabalho
busca contribuir para essa discussão, descrevendo o processo pelo qual as redes migratórias
adquirem uma dimensão espacial, ao mesmo tempo em que mostra que a manifestação
empírico da existência da rede fornece insumos para a descrição metafórica de suas
engrenagens e funcionamento. Buscam-se assim elementos de interpretação da realidade que
fortaleçam a pertinência de se utilizar uma estrutura reticular multidimensional para o estudo
das migrações.