ST 7 O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA: a dinâmica imobiliária no Brasil no contexto da financeirização do capital e do sentimento de urgência
Bruno Xavier Martins
Programa de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP)
Resumo
No dia 22 de Janeiro de 2012, cerca de seis mil pessoas foram expulsas de suas
casas na região do Pinheirinho, em São José dos Campos/SP. Também em janeiro do mesmo
ano, sob a justificativa de uma campanha policial de repressão às drogas, retirou-se uma
enorme quantidade de moradores e usuários de drogas da região conhecida como Cracolândia,
sendo esta uma ação direta do projeto “Nova Luz” de reurbanização do centro de São Paulo.
Além disso, projetos mais antigos, como as operações urbanas das Águas Espraiadas e a
“Nova Faria Lima”, passaram por situações semelhantes. O discurso da construção de uma
“cidade global”, que tem a “[...] cultura como alavanca para a valorização fundiária e
imobiliária [...]” (FERREIRA, 2010) é um dos marcos de sustentação destas políticas. Da
mesma maneira, o da “preservação e recuperação ambiental”, que tem sustentado a remoção
de milhares de famílias na zona sul de São Paulo, e o dos grandes eventos esportivos (Copa
2014 e Olimpíadas 2016) como capazes de gerar milhares de empregos e renda, além de atrair
grandes investimentos2, já acarretou outras consequências à população3.Ao mesmo tempo em
que são expulsas e/ou desapropriadas, tantas outras pessoas alcançam o “sonho da casa
própria” a partir do Programa Minha Casa Minha Vida, entrando em um esquema de
endividamento de longo prazo que leva o “trabalho futuro” a ser uma categoria fundamental
para entendermos o atual cotidiano urbano4. Estas situações, na medida em que caminham
juntas com o crescimento intensivo, na última década, do total de lançamentos imobiliários,
corrobora com a afirmação de Harvey (2004) de que a acumulação do capital parece ter no
setor imobiliário um importante instrumento de sua realização, especialmente nos momentos
de crise. Acumulação e crise ao mesmo tempo? Sim. Voltaremos a isso mais adiante.