ST 9 São Paulo, da cidade de muros à cidade ocupada: insurgências e contradições
Luanda Villas Boas Vannuchi
FAU USP
Resumo
As transformações na ordem urbanística documentadas em São Paulo desde os anos 80, a partir de uma disseminação de shoppings centers e condomínios fechados, ganham novos formatos e conteúdos nesse início do século XXI. Por um lado, despontam megaempreendimentos imobiliários de uso misto e com múltiplos serviços intramuros, que passam a abarcar bairros inteiros, negando ainda mais o espaço público e constituindo verdadeiros cercamentos dentro da cidade. Esse processo é agravado pelas próprias administrações municipais, que contribuem com a formação de enclaves ao entregar áreas inteiras da cidade para gestão privada, através de parcerias público-privadas e operações urbanas. Por outro lado, nos últimos anos, uma série de práticas insurgentes de apropriação de espaços públicos e contestação a projetos urbanos privatizantes se disseminam na cidade, apontando outras possibilidades para a reprodução da vida na metrópole, vivida e produzida agora como um bem comum. Esses dois movimentos, contraditórios, podem ser pensados a partir das noções de cercamento e comunização, emprestadas do contexto pré-capitalista, mas que são atualizadas e incorporadas ao debate contemporâneo sobre processos de urbanização no capitalismo financeiro neoliberal, que passa por autores como David Harvey, Antonio Negri e Michael Hardt e Stuart Hodkinson. São noções que se mostram pertinentes para abordar processos que ocorrem simultaneamente em São Paulo atualmente, se sobrepõe, disputam territórios, são transformadores da paisagem e das dinâmicas socioterritoriais.