ST 2 REFLEXÕES SOBRE O USO DE INDICADORES NO PLANEJAMENTO DO TERRITÓRIO

  • Ricardo Moretti UFABC
  • Flávio Henrique Ghilardi UFRJ / IPPUR

Resumo

Pode-se dizer que existe uma tendência quase instintiva de cálculo de resultados médios, quando se dispõe de um universo de resultados diferenciados e dispersos. Como se verá adiante é problemática a realização de análises e a tomada de decisões a partir de resultados agregados, pois em várias circunstâncias são as situações extremas que determinam o funcionamento do conjunto, mesmo que sua ocorrência seja rara e esporádica. Como exemplo, não basta saber que é muito boa a qualidade média da água para abastecimento humano – se 99% das amostras de água forem ótimas, mas 1% contiver componentes altamente tóxicos para a saúde humana, essa água não é confiável como manancial. Ou, ainda, tome-se a resistência de uma corrente submetida à tração: mesmo que a resistência média dos elos seja elevada, o comportamento do conjunto será determinado pelo comportamento dos mais frágeis, ou seja, torna-se necessário recorrer à estatística dos extremos. Na estatística dos extremos, a análise das ocorrências extraordinárias assume um papel de destaque – trata-se de avaliar a probabilidade de ocorrência de processos e fenômenos que fogem ao comportamento usual, pois esses resultados são determinantes, quer para eles próprios, quer para o comportamento do conjunto. Uma política pública que leva ao atendimento de 98% da população pode ser boa para quem está incluído nos 98%, mas péssima para aqueles que estão no contexto dos 2% desassistidos. Ou, ainda, há que se considerar a possibilidade de que a população não atendida seja submetida a doenças que colocam os outros 98% em risco. Em diversos casos é necessária a efetiva busca da universalização do atendimento e apenas por meio do conhecimento das diferenças é que podemos acessá-los com políticas públicas.
Publicado
2019-05-01
Seção
Sessões Temáticas