Sanane Santos Sampaio
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Resumo
Estudaremos, aqui, espaços residuais a partir da análise da produção e do
cotidiano de dois conjuntos habitacionais populares, localizados em zona periférica de
Salvador: Fazenda Grande II e Cajazeira VI.
Entendemos espaços residuais como elementos excluídos do processo de projeto e
de planejamento, ou seja, da “representação do espaço”, que, sendo materializados na cidade,
podem ser absorvidos ou não pela dinâmica urbana. Sendo absorvidos, isto significa que esses
espaços são percebidos e vividos, isto é, são produzidas “práticas espaciais” e “espaços de
representação”, e, nesse caso, se altera o caráter residual destes espaços. Esta produção é feita
por meio de práticas cotidianas que buscam suprir uma demanda privada de seus moradores
ou usuários, sendo conduzida por processos de reconhecimento e de negociação e da
construção de conveniências sociais.
Os conjuntos estudados são constituídos por vários padrões habitacionais: casa de
um pavimento, de dois pavimentos e edifícios (URBIS, 1981; URBIS, 1982). Estudaremos
áreas onde estão os edifícios, que, sendo unidades de habitação plurifamiliar, ainda conservam
características definidas no projeto urbanístico, ao contrário das áreas onde estão as unidades
individuais, que foram significativamente modificadas ao longo do tempo.
Fazenda Grande II e Cajazeira VI são dois dos treze conjuntos habitacionais que
compõem o complexo de conjuntos Cajazeira-Fazenda Grande, que é o maior de Salvador em
termos territoriais e de população, tendo sido importante fator de indução da expansão da
cidade em direção ao norte, numa região conhecida como “miolo”, por estar entre a orla
atlântica e a Baía de Todos os Santos (imagem 1). Sua implantação foi promovida pelo
Governo Estadual, mediante recursos do BNH – Banco Nacional da Habitação, instituição
federal criada em 1964.