GT6 - 407 As Artimanhas do Discurso Bifronte Práticas de autonomia e ambigüidade discursiva na gestão de projetos sociais nos mutirões em São Paulo
Resumo
Este texto procura problematizar a construção de discursos compartilhados e das ambigüidades que aparecem quando seus significados são instrumentalizados nas operações cotidianas. Assim, nos processos de produção da moradia através da ajuda mútua e por autogestão que se articularam nas décadas de 1980 e 1990 em São Paulo – os mutirões autogeridos –, consolida-se um discurso de autonomia e autodeterminação que camuflará as disparidades entre as concepções dos agentes técnicos envolvidos e aquelas próprias dos trabalhadores mutirantes. Estas disparidades apenas aparecem no momento em que os significados atribuídos são instrumentalizados nas práticas do dia a dia instituídas após a conclusão das obras, duplicando as imagens originalmente pensadas, agora incompatíveis. Pergunta-se qual a razão disto e ensaia-se uma abordagem explicativa, buscando possíveis elementos fundamentais do discurso, procurando compreender a origem dos distintos significados atribuídos. São estes significados que delineariam uma sociabilidade peculiar na periferia da cidade, estendendo para o entorno dos mutirões as concepções de autonomia e autodeterminação dispostos pelo discurso real.