GT5 - 465 SANEANDO A URBES CARIOCA. UMA ANÁLISE DAS REFORMAS URBANAS E TRANSFORMAÇÕES ESPACIAIS AO TEMPO. QUANDO LITERATURA E HISTÓRIA SE ENCONTRAM.

  • LEONARDO SOARES DOS SANTOS

Resumo

O peso e a influência do universo rural sobre a cidade do Rio de Janeiro foi historicamente considerável. Tão significativo para a sua conformação social e econômica ao longo do tempo que ainda hoje é possível testificar sobre boa parte desse legado. A toponímica de várias localidades nos fornece um rico acervo. A força do rural se apresenta tanto em localidades cujos nomes fazem referência a aspectos eminentemente rurais: Campo Grande, Campinho, Rocinha, Laranjeiras, Mangueira, Caju, Morro dos Cabritos, Curral Falso, Anil, Bananal, Dendê, Pitangueiras, Caroba, Morro do Salgueiro; como nas denominações que fazem alusão às grandes propriedades (fazendas) da qual se originaram – e que são mais recorrentes quanto mais nos aproximamos da Zona Oeste: Jardim Piaí (Sepetiba), Cantagalo (Campo Grande), Caxamorra (Guaratiba), Realengo, Engenho Novo, Engenho da Rainha, Engenho de Dentro, Fazenda Botafogo, Vale do Curtume, Fazenda Coqueiro, Serra do Lameirão, Fazenda da Bica, Campo do Peixoto, Campo do Engenho de Fora, Serra do Viegas. E não esqueçamos o fato de que a hoje Tijuca fora por quase três séculos chamada de Engenho Velho. Por outro lado, encontramos alusões diretas aos próprios grandes proprietários – eis os casos de (Lourenço) Madureira, Leblon (de Charles Le Blond), Meiér (de Augusto Duque Estrada Meyer), (Barão da) Taquara, Botafogo (apelido do fazendeiro João Pereira de Sousa, já que fora chefe de artilharia do galeão de mesmo nome), Vitor Dumas e talvez o mais curioso exemplo: a Praça Seca, que seria uma corruptela de Visconde de Asseca, cujas terras iam ao que hoje conhecemos como Barra da Tijuca.
Ainda poderíamos citar alguns logradouros cujos nomes não mais existem, casos de Mata-Porcos (Estácio) e Mata-Cavalos (Riachuelo), mas que foram imortalizados por alguns romances de Machado de Assis, que por diversas vezes os utilizou para ambientar as trajetórias de seus Bentinhos, Conselheiros Acácios, Brás Cubas...1
Os nomes, como todos sabemos, têm uma história. E isso por dois motivos. O nome tem uma história, já que possui uma origem, uma data de nascimento. Mas ele também a tem porque foi criado numa época determinada, numa conjuntura precisa. E no caso de uma toponímica, o nome pode indicar elementos preciosos do contexto histórico no qual ela foi gerada. E tantos nomes referentes a elementos de uma dinâmica rural demonstram o quanto o conjunto das experiências sociais da cidade era atravessado por aspectos do universo agrário.

Publicado
2018-11-28
Seção
Sessões Temáticas