GT2 - 256 OS CONFLITOS NO TRÂNSITO E A PRODUÇÃO SOCIAL DO ESPAÇO URBANO
Resumo
A forma como pedestres e condutores transitam apresenta características diferenciadas que vão depender da forma como foi planejado e estruturado o espaço urbano das cidades e do movimento de resignificação destes espaços por parte dos indivíduos. Este movimento, por sua vez, está relacionado ao conhecimento que o indivíduo tem sobre sistema de trânsito, a sua capacidade de interpretar e preparar sua ação neste espaço planejado e que, quando ocorre a ação, passa a ser espaço vivenciado. Portanto, a produção do espaço de circulação e sua reprodução estão intrinsecamente relacionadas com as práticas construídas nessa interação.
Mas como é produzido na prática cotidiana esse espaço? Para Harvey o espaço é relacional, é algo contido nas pessoas e nos objetos, ao mesmo tempo em que objetos e pessoas existem na medida em que contêm no seu interior as relações com os outros (HARVEY, 1977). Essa perspectiva permite pensar que assim como as pessoas internalizam regras e normas e se orientam a partir delas num espaço previamente planejado, ao estabelecerem a relação com esse espaço e com outras pessoas ao transitarem também realizam um movimento de resignificação deste espaço, uma transformação que ocorre a partir da prática.
Considerando que o espaço de circulação é público e regido por um sistema de leis ao qual pedestres e condutores devem obedecer, este espaço passa a ser a expressão de práticas individuais dentro de um universo forçosamente plural, que vai depender para efetivamente ser público da permanente afirmação do contrato social que o funda. Entretanto, quando não acontece a afirmação do contrato social e quando ocorrem os conflitos, que muitas vezes se transformam em acidentes, estas dimensões são apresentadas como inerentes ao sistema de trânsito ou como responsabilidade individual. Esta visão possibilita que ocorra uma naturalização dos conflitos existentes e as representações sociais acerca desse tema passam a constituir-se como “realidade” pelos indivíduos ao circularem.