GT1 - 666 MOVIMENTO FUNK E POLÍTICA: UMA BUSCA PELO DIREITO À CIDADE
Resumo
Este artigo é um esboço que resulta de um primeiro contato com uma perspectiva de análise sobre o funk carioca que lançamos ao final da dissertação de mestrado intitulada “A multiterritorialidade no universo funk carioca: entre os circuitos espetacularizado e criminalizado”. Aqui temos como objetivo específico entender como determinadas formas de culturas populares ou ditas subalternizadas podem se traduzir numa forma das classes mais empobrecidas e segregadas acessarem à cidade instaurando nela uma arena política e sinalizando um campo de possibilidades.
Neste trabalho teremos como foco o Movimento Funk Carioca, uma das maiores expressões socioculturais de caráter popular do Rio de Janeiro e fortemente atrelado à juventude pobre e favelada carioca. Notavelmente, nos últimos anos, o funk carioca vem configurando um circuito espetacularizado ao sofrer um intenso processo de cooptação mercadológica. Tal processo culmina com o seu maior alcance geográfico resultante da sua explosão escalar que pode ser sentida, dentre várias evidências, pelo arrebatamento de um público a princípio alheio a sua realidade de produção, pela sua grande veiculação nos aparelhos teletecnológicos, bem como em espaços antes restritos a ele, como os das requintadas boates e casas de espetáculo do Rio de Janeiro, do Brasil e do Mundo. Apesar de tudo, pode-se dizer que o funk carioca continua a encontrar severas resistências e restrições para ser reconhecido enquanto cultura tanto pelo Estado e seus aparelhos de repressão, como também pelo próprio imaginário coletivo que se reproduz no inconsciente da cidade e que acaba por reforçar estereótipos que historicamente sinalizaram para a criminalização do funk e da pobreza no Rio de Janeiro. Paradoxalmente, sua história de transformações, alegria, irreverência, preconceitos, criminalização, reunião-segregação se confunde com a própria história da cidade do Rio de Janeiro.
Organizamos o presente artigo em três partes. Num primeiro momento abrimos um debate pautado nas obras de Henri Lefevbre, buscando uma melhor compreensão do “direito à cidade” e da produção do “urbano”, para tanto outros autores também são evocados para o debate para concatenarmos melhor nossas ideias. Posteriormente, apresentamos um panorama dos conflitos instaurados no contexto de desenvolvimento do funk na cidade do Rio de Janeiro, onde é dada ênfase aos reflexos da sua cooptação midiática e às tensões estabelecidas entre atores hegemonizados e subalternizados. Por fim, tentaremos demonstrar a reação do Movimento Funk Carioca, sua articulação política, suas estratégias e como o funk pode se traduzir numa política de afirmação da diferença na cidade.