SL - 59 PROJETO URBANO CONTEMPORÂNEO: ESCALA E INTERDISCIPLINARIDADE

  • Denise Barcellos Pinheiro Machado
  • José Almir Farias Filho
  • Adriana Dantas
  • Carlos Malburg
  • Henrique Gaspar Barandier
  • Antonio Colchete Filho
  • Carina Folena Cardoso
  • Patrícia Menezes Maya Monteiro
Palavras-chave: Projeto Urbano, Planejamento, Interdisciplinaridade, Espaços Públicos

Resumo

A Sessão Livre aqui apresentada é proposta pelo LAPU – Laboratório de Projetos Urbanos do Programa de Pós-graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ (PROURB). Tem como objetivo principal fomentar a discussão sobre o papel dos projetos urbanos contemporâneos e sua prática no contexto brasileiro. No âmbito do LAPU, as pesquisas em torno dessa temática dedicaram-se, inicialmente, à identificação e análise de categorias constituintes do projeto urbano, tais como: programa, tempo, escala, composição, princípios / conceitos / discursos, metodologias, e decisão / gestão. Posteriormente, avançaram na análise das metodologias, princípios e discursos sobre o Projeto Urbano. Nesse processo de reflexões, buscou-se sempre compreender a evolução da noção de Projeto Urbano, verificando no tempo como esta se constitui e como vem refletindo o pensamento sobre a cidade. Mais recentemente, a questão da metrópole e os paradigmas que norteiam as principais ações sobre este espaço complexo e fragmentado estão no campo de discussões do LAPU.
Tendo como referência o tema central deste ENANPUR “Desenvolvimento, Planejamento e Governança”, buscou-se articular em torno desta sessão livre pesquisadores que se dedicam a estudos sobre o projeto urbano na cidade contemporânea a partir de diferentes abordagens, mas que, de algum modo, têm compartilhado preocupações presentes nos trabalhos conduzidos pelo LAPU, dentre as quais podem ser destacadas reflexões quanto a:

• o conteúdo e a abrangência dos projetos urbanos contemporâneos e como esses são incorporados às estratégias urbanas gerais;
• o papel dos projetos urbanos no planejamento espacial das metrópoles do século XXI;
• a inserção dos projetos urbanos nas formulações em longo prazo;
• o potencial de recuperação da cidade existente e de provimento de urbanidade em áreas objeto de projetos urbanos;
• a prática de projetos urbanos na América Latina e, em particular, no Brasil.
Pode-se dizer que os projetos urbanos se destacaram como instrumentos privilegiados de intervenção nas cidades no último quartel do século XX. Se de um lado o projeto urbano serve aos poderes locais para enfrentar questões espaciais, econômicas e políticas da cidade, por outro lado esta prática se impõe como uma estratégia das cidades para valorização de suas potencialidades urbanas num contexto competitivo entre cidades nos níveis regional, nacional e internacional.
Os eixos conceituais abrangidos pelos trabalhos que compõem esta Sessão Livre são de grande relevância para amadurecimento do corpo teórico sobre o projeto urbano no país, discutindo a questão a partir de diferentes escalas e complexidades interdisciplinares. A reflexão aborda: problemáticas dos espaços periféricos das cidades brasileiras; o financiamento das intervenções urbanas; a regulação do desenvolvimento urbano e os novos instrumentos de gestão; o desenho dos espaços públicos; e noções de paisagem associadas ao projeto urbano.
Em “A cartografia simbólica de espaços em mutação”, José Almir Farias Filho (UFC), aborda a problemática dos espaços periféricos das cidades brasileiras mostrando que os espaços perimetropolitanos se constituem num ambiente físico marcado por um mosaico socioterritorial que unifica o rural e o urbano, o natural e o construído, onde se estabelecem novas modalidades de gestão privada do território, alterações nas relações entre espaços públicos e privados, e hibridação entre novas práticas sociais e novas formas de lugares.
Com base no estudo das áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e Fortaleza, o artigo conclui que para evitar os limites de uma legibilidade superficial, a compreensão morfológica dos espaços perimetropolitanos exige o controle de três mecanismos da cartografia simbólica: a escala, a projeção e a simbolização.
Adriana Dantas e Carlos Malburg (BNDES) nos oferecem uma análise do papel do BNDES sobre os financiamentos de projetos urbanos. Aponta para um novo modelo de atuação de cunho regional, ainda em fase de desenvolvimento, que pode ser enquadrado na linha das ações voltadas para mitigar ou anular os impactos negativos no entorno dos grandes projetos estratégicos para o desenvolvimento local ou nacional.
O tema do planejamento e do projeto urbano é também abordado por Henrique Barandier (PROURB/FAU-UFRJ) que analisa as questões relativas à relação entre planejamento e projeto urbano no contexto brasileiro, a partir, sobretudo, da experiência do Rio de Janeiro nas últimas três décadas. Mostra apesar do marco do Estatuto da Cidade, esse debate permanece ainda aberto, pois é o próprio papel do poder público na gestão das cidades que está em discussão. O trabalho explora questões centrais, tais como: a regulação da produção da cidade; a priorização dos investimentos públicos no contexto de desigualdades urbanas; a incorporação de instrumentos jurídicos-urbanísticos do Estatuto da Cidade na gestão das cidades.
O tema do espaço público é desenvolvido por Antonio Colchete Filho e Carina Folena Cardoso (UFJF), que procuram contribuir com uma metodologia analítica para projetos urbanos identificando formas, estratégias e apropriações recorrentes para os espaços públicos que acompanham essas intervenções, bem como, a temática, escala e críticas que são elaboradas a partir dos resultados para a cidade e seus habitantes. A análise contempla experiências em vários países no período de 1980 a 2005, e privilegia o papel dos espaços públicos em projetos urbanos nesse momento da contemporaneidade, onde o binômio memória-cultura vem sendo requerido como marco que não só distinga, mas também salvaguarde a identidade local.
Por fim, Patricia Menezes Maya Monteiro (FAU/UFRJ), propõe a discussão sobre projeto urbano e paisagem. Destaca que a estatura do Projeto Urbano hoje pressupõe uma atuação abrangente, integrada e integradora, uma noção imbricada e fundada no reconhecimento da paisagem. Como uma estratégia, demanda uma compreensão articulada e uma imaginação criadora que se transcreverá em ações urbanas cujo intuito é fomentar potencialidades diversas dos espaços; culturais, funcionais e econômicas. Dois aspectos são cruciais ao sucesso deste processo: a sua construção no tempo e a sua inserção no contexto, a saber: as atitudes perante a história, os processos dialógicos da elaboração do Projeto e a possível e paulatina efetivação destes espaços da cidade; e também a solução espacial, formal, estética e política que reconhece sítio, cidade e sociedade e os espelha ou repele. Mostra que as intervenções urbanas recentes na cidade do Rio de Janeiro nas escalas e dimensões onde um Projeto Urbano se efetivaria, se apresentam como dissonâncias na paisagem. Assim, sob a égide de discursos sobre a cidade e a paisagem, se configuram propostas emblemáticas de uma situação de retração e recuo da noção de Projeto Urbano.

Publicado
2018-11-20
Seção
Sessão Livre