SL - 52 CULTURA URBANA E CENTRALIDADE POPULAR EM ANA CLARA TORRES RIBEIRO

  • Cátia Antônia da Silva
  • Luís Cesar Peruci do Amaral
  • Débora Santana de Oliveira
  • Raquel de Pádua Pereira
  • Anita Loureiro de Oliveira
  • Carmen Verônica dos Santos Castro
  • Vinícius Carvalho Lima
  • Beatriz Silveira Castro Filgueiras
Palavras-chave: Cultura Urbana, Centralidade Popular, Cartografia da Ação, Ação Social, Resistência Social

Resumo

A proposta de trabalho em torno do tema "Cultura Urbana e Centralidade Popular em Ana Clara Torres Ribeiro" resulta de reflexões construídas no âmbito do Laboratório da Conjuntura Social: tecnologia e território (LASTRO), coordenado pela própria Professora Ana Clara entre 1996 e 2011, ano de seu falecimento. Nesta atividade proposta em formato de Sessão Livre, durante a XV ENAMPUR, pesquisadores e membros do LASTRO retomam debate de questões construídas ao longo de anos de pesquisas, orientadas pela Professora, e frutificadas nas reflexões de alguns dos pesquisadores-membros do grupo de pesquisa LASTRO, aqui presentes. São reflexões alicerçadas nos seguintes projetos desenvolvidos pelo Laboratório e de autoria de Ana Clara: “Cartografia da ação e análise de conjuntura: reivindicações e protestos em contextos metropolitanos”, “Vinculo social: cartografia da ação em contextos metropolitanos”, “Territórios da Juventude: experiências em cartografia da ação (São Gonçalo, RJ)” e “A centralidade popular: cultura e apropriação no centro histórico do Rio de Janeiro”.
Assim, no que se refere à problemática da centralidade popular na Metrópole do Rio de Janeiro, Ana Clara Torres Ribeiro cria conceitos, organiza informações originais e propõe metodologias e técnicas de pesquisa em direção à defesa de intervenções urbanas que democratizem o acesso à área central da Cidade do Rio de Janeiro. Dessa forma, esta proposição se direciona à busca de uma episteme humanista concreta que possa enfrentar os processos sociais dominantes, que lidos a partir de Ana Clara, referem-se ao agravamento da crise societária, com a ampliação da violência, da indiferença e do medo; à aceleração do processo de modernização que transforma e rompe o cotidiano coletivo; à tendência a redução de trocas interclassistas e ao acaso de espaços que permitem a negociação de interesses entre diferentes segmentos da população urbana; à redução da eficácia de instrumentos jurídicos e urbanísticos, relacionados ao ideário da reforma urbana, quando desarticulados de projetos abrangentes de integração social; e à multiplicação de diversidade de protestos, conflitos e reivindicações urbanas que permanecem sem resposta do poder público.
Esta, episteme, proposta por Ana Clara, dialoga com o campo que intenciona as trocas de saberes, o reconhecimento das formas criativas das iniciativas populares, e o uso sociamente útil do espaço público, viabilizando a possibilidade da produção coletiva.
Em sua percepção, é um desafio contemporâneo compreender a relação entre o pensamento das formas e agentes dominantes, hegemônicos, e das formas de resistências das bases populares, que reinventam e reconstroem relações presentificadas no cotidiano do Centro Histórico do Rio de Janeiro, onde se desdobram fenômenos relacionados a transformações ocorridas na estrutura da cidade e à função desempenhada pelo Centro Histórico. Tais fenômenos, indutores de processos de fragmentação espacial, dispersão de política e recursos públicos, aumento das desigualdades e de tensões sociais, como nos aponta Ana Clara Torres Ribeiro, relacionam-se ao esvaziamento relativo do Centro Histórico; à criação de novas centralidades pautadas em grandes investimentos privados; às transformações mais amplas na estrutura social e cultura urbana; à implementação de projetos de revitalização urbana que não estabelecem nexos positivos com a economia popular e usos tradicionais da área central; à ampliação e amplitude dos investimentos historicamente realizados no centro da cidade; e à existência de uma permanente luta pela apropriação popular do centro histórico. Em suas palavras:“(...) o Centro Histórico abriga uma disputa surda de sentidos da experiência urbana. Esta disputa acontece entre radicalmente desiguais e através do acionamento de um amplo leque de meios de poder, que incluem desde a manipulação da imagem dominante da cidade – e, portanto, do recurso a meios que geram violência simbólica (...) – até a falta de acesso a informações indispensáveis às táticas de sobrevivência das classes populares.” (Projeto A centralidade popular: cultura e apropriação no centro histórico do Rio de Janeiro).
Nesta direção, reconhecemos o Centro Histórico, como proposto por Ana Clara e Alain Touraine, como lugar da historicidade dotado de acervos institucionais; memórias populares; investimentos em infraestrutura, em arquitetura e arte; aprendizados práticos; modelos cognitivos; condensações de valores culturais e cristalizações de capital simbólico e, por isso mesmo, o lugar da disputa.
Esta proposição dialoga com a compreensão da totalidade da metrópole. O Centro do Rio de Janeiro cumpre um papel metropolitano que traz o debate da relação entre a centralidade histórica e as produções da periferia.
As centralidades populares, neste sentido, remetem as múltiplas formas de apropriações possíveis dos sujeitos metropolitanos, mas reconhece, também, as fronteiras invisíveis, os imaginários urbanos e a busca pelas insurgências. A presente proposta de sessão livre, neste sentido, busca aprofundar o debate das formas de apropriação urbana pelos homens lentos da metrópole tendo como referencia as formas de dominação, de lutas e de insurgências. Conceitos como sujeito corporificado, mercado socialmente necessário, território usado têm possibilitado caminhos possíveis para a compreensão das formas de apropriação urbana e das experiências coletivas.
É neste contexto que a Sessão Livre denominada “Cultura urbana e centralidade popular em Ana Clara Torres Ribeiro” é proposta a partir uma rápida provocação da sua coordenadora, Cátia Antonia da Silva, que trabalha o confronto de perspectivas entre centralidades dominantes e populares, lidas na metrópole como totalidade. 

Publicado
2018-10-19
Seção
Sessão Livre