SL - 47 A HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO E SUAS FERRAMENTAS: CRONOLOGIAS, ANTOLOGIAS, VOCABULÁRIOS E EXPERIÊNCIAS INTERATIVAS

  • Margareth Aparecida Campos da Silva Pereira
  • Margareth da Silva Pereira
  • Paola Berenstein Jacques
  • Thais Portela
  • Jurema Moreira Cavalcanti
  • Hélène Rivère d’Arc
  • Aline Couri
Palavras-chave: Hsitoriografia, urbanismo, Brasil, Historiografia, reforma

Resumo

As ciências humanas e sociais têm renovado suas práticas nas últimas décadas em relação ao seu vocabulário, aos seus objetos de estudo, às categorias e ferramentas que constrói ou, ainda, seu diálogo com outros campos disciplinares e com as novas tecnologias. Essas mutações têm desenhado novas formas de abordagem que por sua vez se traduzem vários deslocamentos na historiografia do urbanismo, engendrando outras formas de pensar a cidade ou sua história.
A sessão discutirá algumas formas de narrativa, de gênero literário, de instrumentos contemporâneas de captura e reflexão das experiências citadinas e urbanas avaliando, particularmente, os usos que certas ferramentas propiciam para as próprias interpretações da história das cidades e do urbanismo.
Serão examinadas as condições de gênese, circulação e recepção de ferramentas consideradas “clássicas” em suas possibilidades de exploração contemporâneas como as linhas de tempo, as biografias, as antologias, as cartografias e os dicionários bem como as novas possibilidades oferecidas pelos meios digitais e as interfaces interativas nas próprias representações sobre a cidade.
Contudo, espera-se poder mostrar como cada uma das ferramentas a ser apresentada e discutida está estreitamente ligada a outra na busca da consolidação de um solo de conhecimentos compartilhados e no esforço de verificação do alcance teórico de certas abordagens.
No campo internacional a iniciativa de reunir conjuntos de textos capazes de mostrar a diversidade dos debates que atravessaram o pensamento sobre as cidades e o território passou a ocupar sistematicamente os pesquisadores há pelo menos umas três ou quatro décadas e foi se impondo como gênero editorial em paralelo ao próprio movimento de configuração e expansão dos estudos urbanos em geral, e dos estudos sobre a história das cidades e dos saberes urbanos em particular.
O gênero antologia passou, assim, a desempenhar um papel central no insumo da crítica e da renovação intelectual criando um solo de leituras e discussões comuns, ou em outras palavras de um “campo disciplinar” mais ou menos balizado em termos teóricos e temáticos. Entretanto, aos autores “clássicos” indexados nas primeiras antologias internacionais, as sucessivas pesquisas vieram somar um novo volume de autores esquecidos e ignorados em diferentes países, alertando no caso do Brasil para a grande falta de sistematização no que diz respeito aos reformadores sociais e urbanos brasileiros. Estes não só não constam nas antologias internacionais como sequer são estudados nas escolas de arquitetura e urbanismo brasileiras.
De certo modo as antologias favoreceram a sistematização de dados em diferentes períodos históricos e com ela uma outra ferramenta, durante muito tempo utilizada como mero recurso metodológico tem se multiplicado em exposições, livros, congressos: as linhas do tempo. Mas o que significa indexar ano após ano movimentos, correntes artísticas, publicações, realizações? Como compreender e analisar os “fatos” que se elencam? O que se percebe quando as linhas de tempo passam a ser construídas e lidas de modo transnacional? Quais são as reiterações e recorrências ou singularidades nacionais e como proceder aos recortes e periodizações?
É certo que em muitos casos as linhas de tempo acabam sendo pensadas de forma evolutiva– e talvez não seja por acaso, que ainda hoje os livros de “evolução” urbana se multiplicam carecendo de uma crítica das nomenclaturas que adotam em uma indistinção tão grave quanto aquela que confunde a própria fonte e ferramenta com a possibilidade de interpretação. A pergunta que cabe é como os modos de temporalização vêm sendo estudados? E o que permitem pensar quanto ao pensamento urbanístico ele próprio? Quais as características comuns que se observa de uma cidade a outra, de um país a outro, de um território a outro, passíveis de definir o urbanismo como um campo disciplinar, uma área de convergência de saberes ou como uma prática?
Um outro núcleo de iniciativas que espera-se poder discutir e que vem marcando os estudos urbanos é aquele formado por trabalhos que elegem a história do vocabulário citadino – e a história dos termos, noções, conceitos - como objeto de estudo. De fato, as palavras da cidade, do vocabulário administrativo ou os próprios termos historicamente utilizados para construir as interpretações sobre a história das cidades ganharam grande visibilidade nas duas últimas décadas, talvez até mesmo como resultado das comparações – e traduções – realizadas no trabalho de construções de antologias e cronologias.
Este esforço de elucidação da historicidade de linguagens e de significados traz insumos para se pensar a história das cidades no Brasil e na América Latina? Pode a circulação das palavras auxiliar na periodização de processos comuns a diferentes países ? Atores e autores exibem sincronias em suas ações e nos usos que fazem das palavras? A recepção e fixação de um determinado significado para um termo em detrimento de outro em uma cidade, ou em um país, pode ter um caráter indiciário do choque ou diálogo entre culturas técnicas, administrativas, artísticas, políticas?
E o que dizer das imagens, isto é das formas de representações iconográficas contemporâneas e de seus discursos? O foco nas imagens de cidades cresceu, também ele, nas últimas duas ou três décadas em paralelo com a gênese das novas mídias digitais.
De fato, ao serem apresentadas como um conjunto de ferramentas revolucionárias na forma de apreensão tanto da cidade contemporânea quanto em sua capacidade de dar visibilidade a processos históricos ou à sedimentação de experiências, elas convocaram, por oposição, a comparação com outras modalidades de representação iconográfica das cidades.
O modo de “formalização do visível” e o estatuto das imagens relativa às cidades – os panoramas, a fotografia, as imagens em movimento, os processos imersivos e interativos permitidos pelos novos meios e pela web, – e as formas de montagem, colagem, assemblage, as cartografias, os atlas, as miniaturas urbanas ao lado de outros recursos visuais, tornaram-se, como no caso das palavras, um centro de interesse intelectual forte.
Como a história escrita se relaciona com a história visual das cidades? Quais as cronologias que balizaram estas duas formas de discursos? Quais os paralelos - temporais ou teóricos - que podem ser traçados entre estes dois gêneros em seus modos específicos de construção? Quais as contaminações ou rebaixamentos que um acabou impondo ao outro? Quais as potencialidades oferecidas pelas mídias interativas hoje?
Em resumo, espera-se discutir nesta sessão, além de algumas destas questões as próprias formas de abordagem adotadas pelos expositores em seus trabalhos. Buscar-se-á enfocar tanto o regime de visibilidades dado aos atores sociais na produção recente, as configurações e modos de temporalização criticados ou propostos, o estatuto das histórias comparadas de cidades, os deslocamentos de sentido de conceitos e sua historicidade, levando em conta a cidade em sua resistência e permanência como forma física e política que se busca apreender mas também, naquilo que guarda de efêmero, imaterial, transitório ou que ainda é inominado.

Publicado
2018-10-19
Seção
Sessão Livre