SL - 17 EXPERIENCIAÇÕES PARA O DIZER CIDADE: ERRÂNCIAS, CONSTRUÇÕES NARRATIVAS

  • Frederico Guilherme Bandeira de Araújo
  • Ana Cabral Rodrigues
  • Flávia de Sousa Araújo
  • Samuel Thomas Jaenisch
  • Marina Cavalcanti Tedesco
  • Natalia Velloso Santos
  • Heitor Levy Ferreira Praça
  • Ricardo Gellert Paris Júnior
  • Eber Pires Marzulo
  • Daniele Caron
  • Gabriela Canale
  • Letícia Castilhos Coelho
  • Marina Cañas Martins
  • Thaís Aragão
  • Juliana Michaello Macedo Dias
  • Walcler de Lima Mendes Júnior
  • Marina Carmello Cunha
  • Priscila Erthal Risi
  • Jurema Moreira Cavalcanti
  • Luis Guilherme A. de Andrade
Palavras-chave: Cidade, Errância, Discurso

Resumo

Esta proposta dá continuidade às Sessões Livres (SLs) “Identidades e Territórios: questões e olhares contemporâneos”, “Epistemologias e Metodologias para o discurso território”, “Imagem e Fala e Território e Identidade” e “Questões sobre o Dizer Território” realizadas respectivamente no XI, no XII, no XIII e no XIV ENANPUR, das quais o GPMC foi um dos organizadores. A SL ora postulada tem por escopo discutir particulares experiências voltadas à construção de dizeres cidade. De modo similar às Sessões Livres acima referidas, pretende a organização de mesa de expositores e debatedores composta por representantes dos seguintes GPs, já articulados como parte da Rede Latino Americana Imagem, Identidade e Território (Rede LAIIT): Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura (GPMC) do IPPUR/UFRJ, Grupo de Pesquisa Identidade e Território (GPIT) do PROPUR/FAU/UFRGS, coordenado pelo professor Dr. Eber Pires Marzulo, Laboratório Urbano do PPGAU/FAU/UFBA, coordenado pelas professoras Dras. Paola Berenstein Jacques e Fabiana Dutra Brito, e Grupo de Pesquisa Nordestanças (GPN) da FAU-Arapiraca/UFAL, coordenado pela professora Dra. Juliana Michaello Macedo Dias.
O tema escolhido - construções de dizeres cidade, assim como o modo particular de realização dessas construções - experiências de errância - têm sido objeto de reflexões teóricas e práticas dos grupos expositores, seja em atividades de cada grupo isoladamente, seja em atividades realizadas por articulações específicas desses grupos. Cabe destacar, nessa perspectiva, a oficina “Cidadeando: uma aventura poiética com som, imagem e movimento” levada a cabo pelo GPMC no âmbito do evento Corpo Cidade III (Salvador, 2012), constituído como parte do projeto “Experiências metodológicas para compreensão da complexidade da cidade contemporânea” em realização pelo Laboratório Urbano. E também a errância realizada durante o II Ateliê da Rede Latino Americana Imagem, Identidade e Território (Porto Alegre, 2012), organizada pelo GPIT e com participação de membros do GPMC, do Laboratório Urbano e do Grupo de Investigación Organización Territorial (GIOT) da UMSA/La Paz/Bolívia, coordenado pelo professor Dr. Ramiro Rojas Pierola.
O mote fundamental ao propósito de realização desse tipo de experiência tem por questão orientadora, de âmbito mais geral, a problematização das afirmações do que seja cidade enquanto expressão linguística especular, a representar um suposto real dado no mundo, imune ao ato gnosiológico. Como desdobramento dessa problematização primeira, há o propósito de tensionar as possibilidades da linguagem através de modos que não se esgotem no exercício da razão, mas que se objetivem enquanto trama de afectos _entendidos, no sentido deleuzeano, não simplesmente enquanto sentimentos ou afeições, mas pelos devires, que excedem as forças daquele que passa por eles_ logo-somáticas possibilitadas por errâncias, em outras palavras, por deslocamentos / confrontações espaço-temporais. A errância, enquanto modalidade de experenciação lúdico-poiética que tensiona a racionalidade das representações dominantes do espaço, se constitui em processos que não supõem meramente como externalidades articuladas os domínios do experienciar, em sentido estrito, e o de testemunhar o experienciado construindo narrativas. Nessa consideração, então, o experienciar é (já) o narrar a um outro. Correlativamente, o testemunhar é (desde sempre) o experienciar. O modo particular considerado às experiências em pauta, designado como errância, caracteriza-se por dois aspectos chave. O primeiro, de sugestão mais imediata a partir do termo usado, diz respeito a não amarração prévia do deslocamento / confrontação do sujeito experienciador a qualquer discurso cidade desde antes considerado, mas sim a disponibilização do sujeito nesse deslocamento / confrontação às tramas de afectos aí possibilitadas e provocadas por dispositivos (temáticos, espaciais, temporais, imagéticos, sonoros, etc.) assumidos como modos de agenciamentos (ao jogo / experiência). O outro aspecto relevante da constituição das errâncias aqui consideradas versa sobre o questionamento da noção de totalidade como possibilidade única do experienciar / dizer cidade. Assim, assinala-se a abertura ao fragmento como potência interpeladora e, por esse intermédio, afirma-se o próprio experienciar como devir constante, sem origem absoluta e destino definido.
Tendo em conta o acima delineado, fica claro que o argumento base que tem orientado as experienciações perpetradas pelos grupos de pesquisa assinalados e que fundamenta a abordagem do tema a ser trabalhado na SL, ao escapar do campo das teorias da representação, assume o entendimento de que o termo cidade é expressão cujo significado é historicamente variado e cujo sentido se especifica na relação interdiscursiva em que se faz presente, relação sempre constituída entre agentes heterogêneos em disputa. Desdobra-se dessa compreensão, assim sendo, que essas experiências não correspondem a apreensões da cidade, mas sim a ensaios construtivos com a palavra cidade, ou em outros termos, trata-se de aventuras coletivas vivas, políticas, corpóreo racionais, enquanto processo simultâneo de instituição, inscrição e legitimação do objeto experienciado, de sua significação e de sua forma narrativa.
Por conseguinte, o tipo de experiência aqui designada como errância espaço-temporal, enquanto experiência sensitivo-racional configurada por deslocamento corpóreo, será tomado como o meio possibilitador de construções poiéticas da palavra cidade que deverá ser trazido à discussão na Sessão Livre. Pretende-se, portanto, colocar em pauta para reflexão temas como: os da própria concepção de errância, formas de operação, tipos de dispositivos, modos de registro, a questão do sujeito experimentador, a questão do testemunho, procedimentos reflexivos, formas narrativas e seus modos de montagem, etc.
Entendemos que a realização da SL proposta é relevante por vários aspectos. Inicialmente, pelo próprio conteúdo da temática em si, em decorrência das questões que envolve, tanto em termos teórico-conceituais e metodológicos, quanto políticos, sociais e históricos. Mas também por dar continuidade a reflexões no campo das discussões sobre identidades, territórios e suas formas de construção discursiva, efetuadas no âmbito dos últimos quatro Encontros da ANPUR através de SLs de mesma natureza da aqui planejada, organizadas pelo mesmo atual proponente. Essas Sessões, envolvendo centralmente pesquisadores ligados pela questão em pauta, têm implicado no aprofundamento teórico-metodológico do assunto, na difusão e na troca de experiências, e ainda na abertura de possibilidades de projetos em parceria. Não menos relevante é a possibilidade propiciada pela SL de colocar ao crivo de professores, pesquisadores e estudantes da área de planejamento urbano e regional, reflexões e práticas desenvolvidas no domínio dos grupos acadêmicos articulados pela Rede LAIIT.  

Publicado
2018-10-17
Seção
Sessão Livre