SL - 14 ENCONTRO COM A HARMONIA DE ANA CLARA TORRES RIBEIRO

  • Tamara Tânia Cohen Egler
  • Anita Loureiro de Oliveira
  • Cátia Antônia da Silva
  • Héctor Atílio Poggiese
  • Hernán Armando Mamani
  • Jorge Sainz Cardona
Palavras-chave: Ana Clara Torres Ribeiro, ação, espaço

Resumo

Ana Clara Torres Ribeiro escreveu uma melodia na sua contribuição aos estudos do campo do espaço urbano e regional. A sucessão de diferentes tonalidades denotadas na leitura de seus escritos resulta numa totalidade harmoniosa e equilibrada. Essa sessão livre é composta por pesquisadores do GT Desenvolvimento Urbano da Clacso, do qual ela foi coordenadora os últimos 10 anos, para fazer um encontro em homenagem ao seu pensamento, para apesentar sua importante contribuição para os estudos urbanos e regionais, desenvolvida ao longo de quarenta anos como professora, pesquisadora, liderança e política. Não é possível percorrer esse campo sem se deparar com sua importante contribuição que dialogava na transversalidade das disciplinas.
A sessão livre esta organizada em três eixos:
Formação de novas gerações
Delimitação do campo Cartografia da Ação
Liderança política
Socióloga de formação mantinha coerência entre discurso e ação, aplicava na vida cotidiana a relação social que enunciava no seu discurso. Sua ação era coerente com o sentido da igualdade, fraternidade e liberdade. Ela andava e conversava com todos, mantinha a mesma atitude de respeito, do mais simples funcionário ao mais alto escalão da academia. Havia sempre uma palavra para aliviar as dificuldades e caminhar na árdua tarefa de apropriação do conhecimento.
Na condição de professora, orientadora e interlocutora de jovens pesquisadores, mestrandos, doutorandos e professores do campo, de diversos lugares do Brasil, da América Latina. Estava sempre atenta às reflexões e a dificuldade, ela podia passar uma hora no telefone para acalmar o outro e fazer uma interlocução para elevar o pensamento critico e autônomo.
Na formação de novas gerações era responsável pela disciplina Métodos e Técnicas de Pesquisa, no IPPUR, lia e relia os projetos de todos os estudantes da turma, ao longo do percurso para sua formulação. Era uma professora capaz de escutar e dialogar, penetrava dentro do pensamento do outro, para ajudar a desfazer os nós e revelar o caminho do exercício da investigação com método, para a difícil tarefa de concepção do conhecimento. Na sua enorme generosidade ensinava o método desenvolvido na sua pesquisa, que pode ser lida nas muitas teses e dissertações, artigos e livros. Tinha o dom de perceber a inteligência de cada um e conduzir para a alegria do conhecimento. Não perdia jamais o foco do seu trabalho de formar pessoas para elevar a capacidade de compreender o mundo em que vivemos. Ela dizia que são necessários 17 anos para formar um pesquisador. Isso acalmava a todos e fazia compreender a importância do pensamento que se debruça na capacidade de aprender e fazer ciência.
O método
O seu método de investigação tem por ponto de partida o concreto, a vida no seu espaço, por que compreendia a relação social apenas no lugar. Esse ponto de partida vai conduzir a compreensão do processo espacial como resultado da marca da ação social no espaço. No método a produção de conhecimento novo deriva da capacidade de analise das condições concretas na vida cotidiana. No seu diálogo com Lefebvre e Milton Santos faz avançar o campo quando compreende a importância da sociologia do presente, e a compreensão do processo espacial como ação social mediada pela técnica para produzir o espaço, como esta escrito no titulo de sua conferência, na defesa de sua titularidade. Essa distinção é muitoimportante por que a nossa cultura dos estudos urbanos e regionais coloca o espaço antes e a ação depois. Ela propõe uma inversão e coloca a ação antes do espaço.
Por isso a importância do objeto e de sua estrutura, ela dizia: vamos reconhecer os eixos que estruturam o objeto para avançar no reconhecimento dos seus atores, descobrir os fatos, identificar os processos. Sem objeto não existe pesquisa, apenas discurso mimético. Por isso a importância do percurso no campo, para reconhecer categorias e conceitos que devem ser reintroduzidos na realidade para dar significado às coisas do nosso mundo concreto, e possibilitar a investigação criativa e criadora. Essa forma de pensar penetra no pensamento coletivo, com seus ensinamentos vai permear o tecido social por onde passa. Sempre a brincar e gargalhar ela nos ensinava com maestria a pensar.
Era ativa não parava. Passava a madrugada a ler uma tese ou dissertação, ou preparar uma aula ou apresentação. A cada dia que passava ela trazia alguma nova reflexão. Sobre o corpo, a alma, o espirito, o espaço, a política no seu sentido mais pleno, a identidade no seu sentido mais humano, a tradição na sua importância para a definição do lugar. Seu nome Ana Clara marcava a sua fora clara de ver a condição humana.
A pesquisadora cria o campo da Cartografia da Ação. Sabemos como é difícil fazer avançar o conhecimento. Existem pesquisadores que sabem usar os conceitos para iluminar a realidade, o que é muito bom. Se o pesquisador inventa conceitos é melhor ainda. Ana tinha por brincadeira inventar conceitos. Mas sabemos que alcançar o desígnio de fazer a delimitação de campo, é muito raro, sendo muito poucos aqueles que podem delimitar um novo campo.
Na sua dissertação de mestrado, no final da década de 70, no coração da sociedade do trabalho, vai indagar sobre as condições de existência das classes populares e revelar a importância do trabalho informal, quando ela percebe a ação de biscate e o seu ator biscateiro. No transcorrer na década de 80 ela vai coordenar o GT Movimentos sociais urbanos, e fazer avançar a compreensão da ação insurgente e resistente social na transformação das condições de existência na cidade. A enorme contribuição esta em examinar a dimensão política da ação social. m 1988 ela vai defender sua tese de doutorado sobre a importância da cultura na vida urbana, vinte e cinco anos atrás Ana Clara vai perceber a importância da politização da cultura.
São três formas de ação social que fundam o campo da Cartografia da Ação.
A cartografia da ação é muito mais do que o mapeamento da ação. Tem pesquisa que confundem cartografia com mapa. O que Ana Clara nos ensinava é a cartografia da ação referida a forma de marcar o espaço pela relação social. Quer seja em busca da existência, pelo trabalho, quer seja em busca da resistência lida nos movimento ou quer seja pelo deslocamento dos atores da esfera política para a cultural. Por isso ela vai revelar a complexidade na relação social que tem sobre nome: existência, resistência e criatividade, que forma o campo da Cartografia da Ação.
Em outubro de 2011 havia defendido o seu exame de titular junto ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, IPPUR. O seu memorial revela os caminhos que percorreu na formulação de sua pesquisa. Nele podemos ler a trajetória de sua obra e como ela vai incluindo novos fatos, atores e processos na sua pesquisa. Ela focava em cada um dos elementos constitutivos da pesquisa urbana dedicada a analise da ação social. Esse memorial e assim como a conferência, estão publicados por iniciativa do LASTRO-IPPUR e ANPUR. A comissão organizadora espera publicar os artigos que estão ali citados em ouros volumes. Ana Clara Torres Ribeiro, pouco depois de fazer a defesa de sua titularidade, no dia 09 de dezembro de 2011.
A proposta dessa sessão livre, tem por objetivo levar a publico o desígnio de organizar, documentar, publicar, disponibilizar e difundir sua importante contribuição à ciência social. Ela pensava que o homem tem corpo, espírito e alma. Corpo á a aparência física, alma, é a forma de ser e o espírito é a forma de pensar. Nossa responsabilidade é levar ao público sua contribuição à ciência social latino americano, com a luz do seu pensamento, para que se possa manter o espírito vivo que faz a defesa a igualdade, justiça e liberdade de ação. 

Publicado
2018-10-17
Seção
Sessão Livre