SL20 Cultura, turismo, lazer, planejamento urbano e desenvolvimento regional

  • Silvio Lima Figueirado
  • Elis de Araújo Miranda
  • Tamara Tania Cohen Egler
  • Mirleide Chaar Bahia
  • Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega
  • Maria Dilma Simões Brasileiro
  • Júlio César Cabrera Medina
  • Carlos Alberto Cioce Sampaio
  • Oklinger Mantovaneli Jr.
  • Valdinho Pellin
  • Isabel Jurema Grimm
  • Cláudia Pfeiffer
Palavras-chave: planejamento urbano, desenvolvimento regional

Resumo

SL-20. Cultura, turismo, lazer, planejamento urbano e desenvolvimento regional.

Coordenador: Silvio Lima Figueirado (UFPA)

Resumo:

A Sessão "Turismo, Lazer e Planejamento Urbano e Regional" realizada nos encontros da ANPUR em Belém (2007); Florianópolis (2009), Rio de Janeiro (2011) e Recife (2013) apresenta-se neste ano com uma importante renovação. Com o título Cultura, Turismo, Lazer, Planejamento Urbano e Desenvolvimento Regional entendese a centralidade da dimensão cultural, tendo o turismo e o lazer como práticas sociais integradas à cultura. Renovada e ampliada, esta sessão tem por objetivo discutir a cultura na perspectiva das políticas públicas, identidade territorial e as suas relações com as atividades práticas de lazer e turismo, com a formação de imagens sobre cidades e regiões, bem como as estratégias de planejamento e gestão ligadas ao turismo e ao lazer para o desenvolvimento desses campos no Brasil. A turistificação de áreas urbanas e de regiões e a disseminação do lazer como prática social são elementos importantes para o desenvolvimento, assim como tem lugar na organização e planejamento territorial atual. A protagonização desses temas, e suas relações com aspectos econômicos, políticos e ambientais podem proporcionar novas abordagens e alternativas ao planejamento urbano e ao desenvolvimento regional. A temática do desenvolvimento, em especial do desenvolvimento regional, parte da compreensão da trajetória deste conceito e a contribuição de diferentes áreas do conhecimento a fim de articula-lo às questões sociais, contemplando temas das diferentes dimensões da condição humana. Se no âmbito das ciências econômicas essa temática esteve diretamente relacionada aos avanços da industrialização sobre a produção do espaço e o nível de desenvolvimento era medido unicamente por indicadores quantificáveis, a partir dos anos de 1980 o tema desenvolvimento voltou ao debate em diálogo com a questão ambiental e indicadores qualitativos passaram a ser considerados. Não se poderia alcançar altos níveis de desenvolvimento econômico com o esgotamento dos recursos naturais e o comprometimento da vida de gerações futuras. Assim, o desenvolvimento passou a ser acompanhado de adjetivações ambientais e o ecodesenvolvimento, ou desenvolvimento sustentável, entra em cena. Entretanto, apenas discutir o desenvolvimento a partir da perspectiva ambiental não respondia mais às questões relacionadas à qualidade de vida e tudo aquilo que pode estar relacionado ao conceito de qualidade de vida passou a ser discutido no âmbito do desenvolvimento. Assim, se coloca a perspectiva de Max Neff, com contribuições de Antônio Elizalde e Martin Hopenhayn, em 1983, na qual o autor defende a Teoria do Desenvolvimento na Escala Humana, a partir da ideia de que “desenvolvimento refere-se às pessoas e não aos objetos!” Defende ainda que os indicadores de desenvolvimento devem ser qualitativos, a fim de medir a qualidade de vida. Reconhece que mesmo que haja distinção cultural entre os indivíduos e sociedades, as necessidades humanas são as mesmas – ser, ter, fazer e estar – que garantem a existência, na autonomia dos sujeitos. Nesta mesma linha Amartya Sen defende o desenvolvimento com justiça social, pois se refere ao direito à liberdade, e à participação política direta, que garante o protagonismo de pessoas e grupos subalternos e o fim das desigualdades de toda natureza. O desenvolvimento com ênfase nos valores culturais tem como base a Teoria dos Sítios Simbólicos de Pertencimento de Hassan Zaoual. Para este autor, o problema dos países periféricos reside na ocidentalização do mundo, imposta pelos países do Norte aos países do Sul, sem considerar a diversidade cultural, religiosa e civilizacional. Assim mesmo, Zaoual analisa que o paradigma econômico da globalização, abstrato, dedutivo e dividido em especializações estanques, tem conduzido a humanidade em direção a desastres ambientais e sociais irreversíveis. Para este autor, o homem ocidentalizado perde de vista a sua essência humana e a sua complexidade, aqui entendida na perspectiva discutida por Edgar Morin. Esta mesma lógica de imposição de referências culturais se aplica ao tratarmos as regiões brasileiras, pois a região concentrada impõe ao Nordeste e à Amazônia a sua lógica. Assim, os desenvolvimentos possíveis em locais nos quais as culturas não estejam completamente submetidas à lógica e práticas capitalistas, ou suas interações com o capital, é a contribuição deste conjunto de trabalhos a serem apresentados. Busca-se, dessa maneira, discutir a questão regional a partir da dimensão cultural. Reconhece-se a importância da dimensão cultural na constituição dos espaços de lazer e de turismo, bem como em referências culturais ou nas produções e gestões culturais. As atividades de lazer e turismo não só indicam a necessidade das populações brasileiras e de outros países, principalmente as urbanas, no uso do tempo para o encontro do descanso, da fruição, do divertimento e da viagem, e nesse sentido ressalta-se as diversas formas com as quais essas sociedades produzem experiências sensíveis no sentido de ocupar seu tempo livre, quer seja motivando a produção por meio do consumo cultural e simbólico, quer seja em vivências do ócio e da festa. Da mesma forma, a cultura se coloca como elemento de fruição e que tem reflexos nas subjetividades humanas e das relações com indústrias culturais e produção de bens culturais. A cultura, o turismo e o lazer por essas diferentes dimensões se relacionam com o desenvolvimento, pois trazem intersecções com o mercado, mas também porque representam formas autonomistas de desenvolvimento humano e portando de um conceito amplo de desenvolvimento e desenvolvimento regional. Além disso, as relações entre cultura, turismo, lazer e o desenvolvimento perpassam também pela possibilidade de políticas públicas, planejamentos e gestões públicas direcionarem processos de intervenção estatal e dinâmicas referentes ao encontro com iniciativas diversas, publico-privadas, em ações de ONGs, associações, cooperativas e movimentos dos mais diversos tipos, exemplificados pelas ações ainda modestas, mais em um crescente importante, dos Ministérios do Esporte, Turismo e Cultura em nível federal, para referenciar o caso brasileiro. Esse contexto altera as perspectivas do desenvolvimento e do planejamento urbano e regional e indicam alternativas concretas da produção de novos modelos de políticas públicas e planejamento nos quais a leitura das cidades e das regiões iniciariam pela dimensão identitária e pela experiência da vida cotidiana, pautando as principais mudanças e intervenções do planejamento, baseadas na compreensão de que a chave da relação entre a técnica, a política e a vida produtiva passa necessariamente para organização da vida comunitária e simbólica e de suas dimensões interculturais. Participam desta sessão pesquisadores de sete instituições de ensino e pesquisa, de quatro regiões brasileiras que, durante o II Seminário Desenvolvimento Regional e Sociedade (II SEDRES) ocorrido em Campina Grande (PB) em agosto de 2014, reuniram-se para a organização da Rede de Pesquisadores em Cultura, Turismo, Lazer, Planejamento Urbano e Desenvolvimento Regional. Assim, a proposta ora apresentada indica o amadurecimento deste grupo que teve início em 2007 com a participação de apenas quatro instituições de pesquisa. Nesta nova configuração participam pesquisadores da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Estadual da Paraíba, Universidade Federal da Paraíba e Fundação Universidade Regional de Blumenau.

Exposição: Cultura e Educação em Campos dos Goytacazes (RJ): análise da realidade a partir das orientações do Plano Nacional de Cultura

Expositores: Elis de Araújo Miranda (UFF), Tamara Tania Cohen Egler (UFRJ)

Resumo: Em 2010 foi aprovado o Plano Nacional de Cultura (PNC), um documento norteador das políticas públicas de cultura, elaborado por meio das conferências municipais, fóruns regionais e com a participação dos diferentes segmentos sociais envolvidos na produção, difusão e ensino de artes. As ações prioritárias apontadas no PNC e a relação entre Cultura e Educação são: 1) Mais Cultura nas Escolas; 2) Agentes de Leitura e Mais Educação; 3) Cine Educação; 4) Pesquisa, mapeamento e georreferenciamento de escolas e espaços culturais; 5) Programa Nacional Biblioteca da Escola; 6) Formação continuada para professores de artes. Este trabalho visa apresentar a realidade desta relação entre educação e cultura no município de Campos dos Goytacazes a partir de mapeamento das ações da Secretaria Municipal de Cultura no atendimento aos objetivos do PNC em promover o desenvolvimento de atividades culturais dos eixos apontados acima.

Exposição: Politicas públicas e desenvolvimento do turismo e do lazer: participação e novas práticas críticas

Expositores: Silvio Lima Figueirado (UFPA), Mirleide Chaar Bahia (UFPA), Wilker Ricardo de Mendonça Nóbrega (UFRN)

Resumo: O trabalho apresenta o resultado de pesquisas em Santarém, Belterra e Belém, estado do Pará, abordando as principais políticas de lazer e de turismo produzidas e implementadas ou não nesse estado, a partir de modelos desenvolvimentistas atrelados a ideias de participação, sustentabilidade e mediação. A pesquisa é norteada pela apresentação dos campos do turismo no Oeste do Pará e do Lazer em Belém, demonstrando os diversos programas criados para o incremento dessas duas práticas entendidas como atividades econômicas tanto no contexto rural como no urbano. O turismo e lazer programáticos estão baseados em características muito próximas: uma quantidade de planos, programas e projetos, ações específicas, que pressupõem a participação. A ideia de participação dos agentes, apesar de ir ao encontro da ideia de sustentabilidade e de novas formas de compreender o desenvolvimento, se choca com as posições de classes, conflitos e articulações de consenso que dizem respeito muito mais às lógicas e dinâmicas locais de aquisição de capital social do que as pretensões dos planos e programas articuladores de novas logicas de desenvolvimento. Dessa forma, o turismo e o lazer preconizados nas politicas são sobrepostos pelo seu campo de poder simbólico, habitus, posições e distinções. No entanto, essas situações mesmo afastadas de novas ideias sobre desenvolvimento, tangenciam práticas que se apresentam como alternativas, indicadas como turismo comunitário e vivências crescentes relacionadas ao lazer em áreas naturais.

Exposição: O turismo situado no contexto da cultura e desenvolvimento territorial

Expositores: Maria Dilma Simões Brasileiro (UEPB), Júlio César Cabrera Medina (UFPB)

Resumo: Cada sociedade produz seu/s território/s e suas territorialidades, em base a configurações materiais e simbólicas. A ênfase nessas configurações está em não separar a i/materialidade da vida, das des/continuidades dos territórios e suas relações com a economia-política-cultura-natureza. Os territórios são, portanto, resultados de movimentos relacionais, processuais e condicionais da i/materialidade da vida cotidiana. São nessas dinâmicas e movimentos dos territórios que se constroem os processos de desenvolvimento. A cultura se apresenta, neste contexto, como uma dimensão que pode gerar desenvolvimento territorial, por meio da materialidade, em forma de objetos criados, e da imaterialidade, na sua dimensão simbólica. Os agentes territoriais que participam desse processo realizam hibridações dos componentes culturais, assim como reconfiguram os espaços existentes, gerando novos fenômenos territoriais, como é o caso do turismo situado. Nesta perspectiva de turismo, prevalece o contato com a cultura e a natureza do território visitado e suas relações existentes. O cotidiano das pessoas do território é valorizado, e as formas de sentir, pensar e agir são buscadas pelos turistas. Neste contexto, o presente ensaio tem por objetivo analisar as perspectivas de desenvolvimento subjacentes às proposições que associam o potencial cultural dos territórios e o turismo situado.

Exposição: Contribuições do enoturismo para o desenvolvimento territorial: uma análise a partir da experiência dos vinhos verdes em Portugal

Expositores: Carlos Alberto Cioce Sampaio (PUC-PR; Universidade Regional de Blumenal), Oklinger Mantovaneli Jr. (Universidade Regional de Blumenal), Valdinho Pellin (Universidade Regional de Blumenal), Isabel Jurema Grimm (UFPR)

Resumo: A vitivinicultura é um dos setores mais dinâmicos da agricultura portuguesa e um dos que se adaptou melhor aos esforços de integração comercial deflagada a partir da criação da comunidade europeia. O país é o quinto maior produtor de vinho e um dos maiores consumidores do produto. Em muitos casos a atividade tem desempenhado um papel importante no fortalecimento de regiões rurais, sobretudo fragilizadas economicamente. Além disso, tem estimulado o fortalecimento de atividades complementares como turismo, em contexto de diversificação econômica. O enoturismo tem se fortalecido no país por meio da criação das Rotas dos Vinhos em áreas demarcadas e reconhecidas com Denominações de Origem Protegida. Este trabalho procura discutir as contribuições e desafios do enoturismo para o desenvolvimento territorial a partir da experiência dos Vinhos Verdes. Metodologicamente o artigo se ampara em um estudo de caso, utiliza pesquisas em fontes primárias obtidas por meio da realização de entrevistas semiestruturadas a atores estratégicos da Comissão de Viticultura Regional dos Vinhos Verdes e da Cooperativa Adega de Monção e de fontes secundárias, por meio da análise de documentos das instituições. Verificou-se que, embora o enoturismo desempenhe um papel importante para fortalecer e expandir o turismo na região, as rotas dos vinhos verdes apresentam dificuldades operacionais que precisam ser superadas. Em muitos casos os atores não estão articulados de maneira eficientemente coordenada para operá-las, o que compromete seu funcionamento. Estes problemas foram identificados pela Comissão de Viticultura Regional dos Vinhos Verdes, que está reestruturando as rotas e investindo na articulação e capacitação dos atores envolvidos.

Exposição: Desenvolvimento e cultura: parâmetros para a reflexão dessa complexa relação

Expositora: Cláudia Pfeiffer (UFRJ)

Resumo: Esse texto, de caráter exploratório, tem por finalidade apresentar subsídios que contribuam para fundamentar a construção de posicionamentos teóricos, criteriosos, sobre a complexa relação entre desenvolvimento e cultura. Especificamente, sobre a necessidade e as possibilidades de desenvolvimento em locais ainda não inseridos, de forma competitiva, nos espaços econômicos globais; ou, em outros termos, em locais nos quais a (s) “cultura” (s) não esteja (m) completamente submetida (s) à lógica capitalista. A autora parte do pressuposto de que um posicionamento criterioso sobre as necessidades e/ou possibilidades de desenvolvimento – e não apenas de desenvolvimento econômico - em locais com as características acima destacadas, passa pela explicitação do que se entende por cultura e desenvolvimento, vocábulos polissêmicos. E no sentido de contribuir para sua construção, apresenta: (i) conceitos de cultura e concepções de desenvolvimento, presentes na literatura sobre o tema; (ii) os conceitos de cultura e desenvolvimento que adota em suas reflexões; (iii) seu posicionamento atual em relação ao assunto.

Publicado
2019-05-21
Seção
Sessão Livre