ST 1 PORTO ALEGRE: UM SÉCULO DE URBANIZAÇÃO

  • Maurício Polidoro Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
  • Neudy Alexandro Demichei Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul

Resumo

O ponto de virada histórico do Brasil para o século XX com a proclamação da República trouxe consigo novos desafios inerentes à transformação que se verificava, tanto do ponto de vista da organização territorial como do posicionamento de novos e velhos agentes políticos na conformação do novo país. Embora a dualidade, usualmente acompanhada da dicotomia, seja uma característica intrínseca ao Estado e a sociedade brasileira numa complexa e dialética relação, desde a era colonial, os fatos que marcaram a conformação espacial, política e cultural das metrópoles neste momento da história aproximam-se de um modelo que se reproduz até os dias de hoje. Com a perpetuação do modelo político-administrativo que ignora os limites entre os interesses públicos e privados, sempre controlados por homens “do bem”, o Brasil República passa a incorporar novos dilemas, em especial devido ao desenvolvimento da agricultura e uma relativa dinamização produtiva nas principais capitais do centro-sul, com uma tímida urbanização. No Rio Grande do Sul, ainda que os “progressistas” tenham vencido os interesses dos pecuaristas, ligados à elite da extinta monarquia, e passem a controlar o Estado até a primeira metade do século XX, o saldo histórico para os desfavorecidos ainda permanece negativo. Embora seja relevante lembrar os esforços do Partido Republicano Rio-grandense em fornecer assistência aos mais pobres como a coleta de lixo e serviços de funerais gratuitos, o anseio da modernização da metrópole, compreendida como o alinhamento aos padrões urbanísticos e culturais europeus, passa a prevalecer em detrimento a histórica formação socioespacial que se sucedia. Assim, observa-se, a partir da primeira década do século XX, a articulação dos agentes como Estado e burguesia local, no intento de reajustar a organização espacial da cidade. Tal cenário se intensifica ao longo do século devido à industrialização tardia, a incorporação brusca de inovações tecnológicas, com efeitos perversos no espaço. Lencioni (2011) afirma que temos passado, nos últimos 30 anos, a um processo de metropolização do espaço, ou seja, um estágio superior à urbanização. Esta, conhecida como um processo acelerado e excludente, precederia o estágio da metropolização que tenderia, nesse raciocínio, a concentrar de um lado a pobreza nos seus diversos níveis, desde as mazelas de moradores de ruas, imagem característica das cidades brasileiras, como a segregação das classes sociais junto à áreas de topografia acentuada e carência de serviços públicos básicos como saneamento, saúde, lazer, educação e emprego formal.
Publicado
2019-05-01
Seção
Sessões Temáticas