ST 1 A SUBSUNÇÃO DA CIDADE ÀS FORMAS DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA

  • José Tanajura Carvalho Cedeplar/UFMG

Resumo

A história da cidade é o conjunto de memórias e imagens vivas da natureza e do trabalho. Rios, matas, serras e construções (móveis e imóveis) que, na oralidade de versos, prosas e boatos nas esquinas, ruas e praças, pátios e chão de fábrica, formam, por gente do povo, as referências materiais e ficcionais sobre a cidade. Trabalhadores que, no decurso rotineiro do fluxo produtivo e no breve tempo de descanso para um café ou um trago, comentam a severidade da vida entre assuntos de política e futebol. Personagens que, por construírem com tijolo, argamassa e suor, acréscimos da história real da cidade, sentem-na como extensão de si próprios, na virtualidade, pois, de a possuírem como sua (PESAVENTO, 2007; HISSA, 2006: 85). O capital, no entanto, perverte a cidade com artimanhas de promessas e encantos de progresso anunciado na ilusão de mais emprego e mais renda, compondo novas paisagens com soberbos planos e magnificentes construções em cimento e vidro. Estilhaça lugares transformando-os em não-lugares, isto é, sem identidade histórica e popular (AUGÉ, 1992: 87). Artifícios para reluzir o antigo como formação do novo, expressão em ser moderno o que, de fato, é modernismo, em pós-modernidade no lugar de pós-modernismo, visto permanecer a dimensão da obstinação de cada vez mais impor, na sublimação da propriedade privada, a cidade como mercadoria ou meio de produção. Desse modo, concorre discerni-la quanto as suas propriedades de uso e de troca. O presente artigo, com três seções e mais esta Introdução, objetiva examinar a economia política da cidade na subsunção às formas de acumulação capitalista, destarte, precisa a sua formação enquanto valor de uso e de valor de troca. A primeira seção — Cidade, valor de uso e valor de troca — traz ao debate as propriedades extrínsecas e intrínsecas da cidade no modo de produção capitalista, com fulcro na teoria do valor e na crítica à teoria ricardiana sobre a renda da terra, ambas retiradas das obras de Karl Marx. Na segunda seção — A conquista da cidade pelo capital —, o artigo discute os traços distintos da cidade nas formas do capitalismo, demarcadas na revolução industrial, no período fordista-keynesiano, e no capitalismo globalizado. Finalmente, nas Conclusões, o artigo confronta os apontamentos das seções precedentes.
Publicado
2019-05-01
Seção
Sessões Temáticas