ST 10 O EXERCÍCIO DE ATRAVESSAR A CIDADE PELA NARRATIVA DE CAROLINA MARIA DE JESUS
Gabriela Leandro Pereira
PPGAU/FAUFBA
Resumo
Enquanto mulher, negra, pobre, moradora de favela, a escritora
Carolina Maria de Jesus poderia ter sido mais um dentre os tantos indivíduos
invisibilizados pela sociedade, ocupante de um corpo tão “marginalizado” quanto
o território que habita. Mas Carolina inventa um outro lugar. Essa invenção
passa, dentre outros processos, pela construção e visibilização de um discurso,
inicialmente redigido como diário, e posteriormente publicado em fragmentos: o
livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada” (1960). A ele se segue uma
produção ainda pouco conhecida, mas que impressiona pela permanência das
situações nela contida, nunca superadas, mas acumuladas, sobrepostas e
reinventadas no cotidiano dos “territórios pobres”. Os livros “Quarto de Despejo”
(1960), “Casa de Alvenaria” (1961) e “Diário de Bitita” (1986)1, embora
apresentem diferenças em suas formas (os dois primeiros seriam diários, e o
terceiro, um livro de memórias), atuam em conjunto traçando trajetórias entre o
visível e o dizível, modos de ser, modos de fazer e modos de dizer,
reconfigurando o “mapa do sensível”2 da cidade.